tag:blogger.com,1999:blog-14226151521299905372024-02-19T11:43:09.705-03:00Meu blogue, meu mundoUm blogue que não vale nada com impressões sobre tudo.Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.comBlogger56125tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-26128308558456345052013-07-01T23:22:00.001-03:002013-07-01T23:22:58.721-03:00EU TINHA UM CELULAR<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6rUFTeK2ZqA5uQGcyDoai4ul6eI0HgY5s8n6lzDL5PE1qi03MVo5NM8NPZotBIwglnQTaOuTMxop8qxt8oomRcsXKNKoACssW4WjZzxiQbdIdu6FIU0aEVjZqKKsZ397S1GHUTzNVekJX/s1600/Motorola-RAZR-Horizontal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="113" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6rUFTeK2ZqA5uQGcyDoai4ul6eI0HgY5s8n6lzDL5PE1qi03MVo5NM8NPZotBIwglnQTaOuTMxop8qxt8oomRcsXKNKoACssW4WjZzxiQbdIdu6FIU0aEVjZqKKsZ397S1GHUTzNVekJX/s200/Motorola-RAZR-Horizontal.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Meu antigo RYALZTX</span></td></tr>
</tbody></table>
</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">Eu
tinha um celular e ele era descolado. Seu nome era formado por quatro letras,
sendo que apenas uma era vogal. Eu nunca soube pronunciar seu nome e vivia com
ele na mão, já que não cabia no bolso. Quando alguém via e ficava impressionado
com sua modernidade, logo me perguntava o modelo. Eu dizia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-RALSZTZ<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">Ou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-RIALTZC<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">OU<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-REIZORLST<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;"> Enfim.
Eu nunca soube pronunciar o nome do meu celular. Mas ele tinha dois ou três
filmes que, na locadora, poderiam ser encontrados na prateleira de “Superlançamentos”.
Ele tinha a primeira temporada de “Madmen” completa gravada nele. Todos os
riffs sombrios de Tommy Iommi, todos os “All right now” de Ozzy Osbourne
estavam nele. Van Morrisson estava nele, junto com “20 best western tracks”.
Geni e o Zeppelin e toda a Opera do malandro também. Ele tinha aplicativos.
Outro dia tirei uma foto de uma abelha numa flor e, trinta segundos depois ela
estava no Instagram. Se alguém na China quisesse ver minha abelha, era só
acessar meu Instagram. Armado de paciência oriental e mãozinhas minúsculas, era
possível digitar uma tese em meu celular, inclusive fazer todos os cálculos
estatísticos. Ele tinha mapas. Eu podia ver o topo do pico do Everest em 3D em
meu celular e, assim, decidir qual face atacar se, um dia, eu resolvesse
escalá-lo. Mas aí aconteceu a tragédia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;"> Eu
fui ao supermercado e fui ao estacionamento empurrando o carrinho e levando o
celular na mão esquerda. Ele não cabia no bolso. Abri o porta-malas e, suprema
chucrice, coloquei meu RAILTEZER sob o porta-malas, junto à trava de
fechamento. Guardei as sacolinhas e POW. Bati o porta-malas e nada dele fechar.
POW POW POW. Agora sim. Fechou. Nem me dei conta do que havia feito. Mais
tarde, procurei meu RINTZERLI e nada. Usei o velho truque de ligar para mim
mesmo a partir do telefone fixo. Meu ringtone era “Ceremony” do New Order. E
então, quando eu liguei, escutei “Ceremony” vindo das catacumbas do meu
porta-malas. Achei meu RIMERÇULZ COM racho de ponta a ponta na tela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;"> Xinguei
a Honda, por projetar um porta-malas que poderia esmagar um celular. Xinguei a
rede Pão de Açúcar porque...porque eu estava puto da vida. Mas então a
adrenalina baixou e xinguei quem merecia realmente: eu. E então quis me punir.
Na mesma noite fui ao Extra. Passei pela promoção de azeites, a de óleos
lubrificantes e, depois da pilha de impressoras, cheguei ao balcão de
celulares. Solícito, o vendedor perguntou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">- Posso ajudar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Qual seu celular mais barato? Perguntei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Este. Mas ele não tem câmera, nem internet,
nem nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Ele fala? Perguntei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Fala.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Quanto custa? Perguntei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;">-Oitenta reais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: large;"> Comprei.
Meu celular novo tem agenda, contagem regressiva e rádio FM. Ele tem quatro
toques polifônicos possíveis. Escolhi a “Ave Maria”, de Gounod. Quando alguém
me liga, meu celular me faz lembrar um caminhão de gás. E quando escuto aquele
sonzinho de caminhão de gás vindo do meu celularzinho ordinário, logo penso:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="font-size: large;">-Bem feito, sua mula.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-10661332529213685632012-05-13T09:24:00.001-03:002012-05-13T09:24:09.552-03:00O ÓBVIO ULULANTE CONTRA-ATACA OU SOBRE COMO TEMOS VERGONHA DE COMPRAR DINHEIRO<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrCJjwdBq090gLVvBHpf1dMQ83we0balpzUZIl3KY9PB__qjiAo31LovhhRSXcWEp7uYgxnGNTTEnx09CvxL9-1D0SBKybCfmAE4vSkBU3jbjl15uUQ4SxB2G5_6I1TNbkr28EjfMwuRdt/s1600/p%C3%A3o+de+a%C3%A7%C3%BAcar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrCJjwdBq090gLVvBHpf1dMQ83we0balpzUZIl3KY9PB__qjiAo31LovhhRSXcWEp7uYgxnGNTTEnx09CvxL9-1D0SBKybCfmAE4vSkBU3jbjl15uUQ4SxB2G5_6I1TNbkr28EjfMwuRdt/s320/p%C3%A3o+de+a%C3%A7%C3%BAcar.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">O óbvio ululante</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">O grande Nelson Rodrigues (sempre este autor
fatal) tinha por Otto Lara Resende uma destas amizades fundamentais, devotas.
Esta devoção chegava mesmo a incomodar o Otto na medida em que o anjo
pornográfico fazia do amigo um de seus principais personagens em suas crônicas
diárias. E foi numa destas crônicas com seu personagem predileto que Nelson
criou o hoje clássico termo “óbvio ululante”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Reconto
com palavras minhas. Otto vinha dirigindo por sei lá qual rua do Rio de Janeiro
quando freou bruscamente o carro, desceu, olhou para o Pão de Açúcar e exclamou
“Como é lindo! Como é lindo!”. As pessoas a sua volta não entenderam nada,
afinal de contas o Otto tinha visto zilhões de vezes a tal pedra. Mas segundo
Nélson, o fato é que o Otto tinha conseguido <b>realmente</b> ver o que nem todos conseguiam: a óbvia beleza da pedra
saltando ululante aos olhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mas
eu contei tudo isso porque recentemente tive meu próprio encontro com o óbvio
ululante. Explico. Comia eu meu rotineiro bife com fritas enquanto contava a um
amigo algumas histórias da televisão que havia lido no “Livro do Boni”. O cara
ficou interessado e me pediu o livro emprestado. Disse “Claro, amanhã eu te
trago”, terminamos de comer e nos despedimos. E fui então que tudo aconteceu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Antes
de voltar ao laboratório, passei no caixa eletrônico para sacar cinquenta paus.
Inseri o cartão e imediatamente a máquina sedutora me apresentou a foto de uma
família feliz e ofereceu dinheiro para “realizar meus sonhos”. Recusei então
aquilo que costumamos chamar de “empréstimo bancário” e refleti: o banco não
nos empresta nada. O banco nos vende o dinheiro.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mas
então porque dizemos que “emprestamos dinheiro a juro” e não que “compramos
dinheiro a prazo”? Simples. Porque queremos satisfazer nossos sonhos de consumo
mas temos vergonha de dizer que não podemos. O banco, sabedor desta nossa
fraqueza psicológica, age como aquele agiota que passa o dia bebericando café
no Bar Central. Com pose de velho amigo, ele chacoalha as correntes de ouro do
pescoço e nos adianta uns tostões. E nós cumprimos o <i>script</i> e aceitamos a “grana” do nosso velho camarada. Rapidamente
fugi da tela sedutora, peguei meus cinquenta paus e voltei ao laboratório.
Enquanto caminhava, refleti sobre o óbvio ululante. Emprestar significa deixar
o livro com um amigo para poder trocar ideias no próximo filé com fritas. Mesmo
sem os cordões de ouro, a telinha daquela caixa cinza impessoal quer é nos
vender tostões. E caro.</span></span>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-38549277478605239552012-04-21T20:39:00.000-03:002012-05-22T10:04:26.199-03:00ANENCÉFALOS<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxzQRNaHIAG1fdlxy-U5gq0jPQCo96dowZzKsQGcYHP76SxZf5Q0-tKTuep9CpGzrmsZN9N4Srqec8vF23FdgotbB-lJDLdtaHEnHVzeKGrof0WtWbTI__nFbL8zn9ORpAJfb3ilF5xu6a/s1600/c%C3%A9rebro.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxzQRNaHIAG1fdlxy-U5gq0jPQCo96dowZzKsQGcYHP76SxZf5Q0-tKTuep9CpGzrmsZN9N4Srqec8vF23FdgotbB-lJDLdtaHEnHVzeKGrof0WtWbTI__nFbL8zn9ORpAJfb3ilF5xu6a/s200/c%C3%A9rebro.gif" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;"><span style="background-color: black;">Favor usar sem moderação</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Acabo de voltar do banheiro e, pelo que pude
constatar, não pertenço ao gênero que dá a luz. Assim, antes que alguém deseje
desqualificar minha opinião sobre a descriminalização do aborto de fetos
anencéfalos, gostaria de lembrar que nove dos onze ministros do supremo também
são homens. Portanto, mesmo que me falte a toga, lá vai meu pitaco.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “Pedaço
de mim” é talvez a letra de música mais triste composta em Língua Portuguesa. É
tão triste que, se não fosse tão bonita, não valeria a pena ser ouvida. Nela, o
soberbo Chico decreta: <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">“Que a
saudade é o revés de um parto<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">A
saudade é arrumar o quarto<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Do
filho que já morreu”<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mais
triste que a música, só mesmo a realidade. Imagine inflar o ventre e produzir o
leite do filho que vai morrer. Imagine ver os contornos e escutar o “wuá-wuá”
cardíaco no ultrassom e saber que aquela criatura não há de vingar. Que fazer?
O mínimo. Que a mãe escolha a hora e lugar do revés do parto. Que a mãe arrume o
quarto do filho que já morreu na hora em que bem entender.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-82449625037591844192012-04-08T07:43:00.000-03:002012-04-08T07:43:21.282-03:00SEU ROQUE TAMANINI E AS RAÍZES DO BRASIL<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3y4OA2vUkM8ywNJG3GtWOzWjAGh4jKY_EznHzK8olmVXhPvu9vFgNlPzcaraZq6h98ey94RbxJZS26yA9cBqK0KvfU2AKwBn0WefTtmQIuqAS0y8fer6IT-UAJZtYMl699U_zNrIwalMB/s1600/ra%C3%ADzes+do+brasil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3y4OA2vUkM8ywNJG3GtWOzWjAGh4jKY_EznHzK8olmVXhPvu9vFgNlPzcaraZq6h98ey94RbxJZS26yA9cBqK0KvfU2AKwBn0WefTtmQIuqAS0y8fer6IT-UAJZtYMl699U_zNrIwalMB/s200/ra%C3%ADzes+do+brasil.jpg" width="143" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Seu Roque me fez lembrar deste livro fundamental...</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Cobertos de fuligem e suor, nossos irmãos do norte forjaram a modernidade à base de carvão, aço e
vapor. Enquanto isso, abaixo do equador, insistíamos em adoçar o mundo a base de cana e músculos africanos. No norte, homens como Benjamin Franklin,
James Watt e Lavoisier tomavam choques, faziam fumaça e fediam a enxofre para fundar
as facilidades do mundo moderno. Por aqui, papai descia o relho em "seus pretos" enquanto o filhinho vestia gravata de cetim e ia para as universidades da
metrópole bebericar vinho do porto e tecer a labiríntica burocracia do estado-mamute que nos
atola até hoje.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O
célebre historiador Sérgio Buarque de Holanda, pai do não menos célebre Chico,
já denunciava este bunda-molismo, esse “nojinho” de fazer coisas com a mão. Para
ele, o brasileiro sempre achou inferior o trabalho mecânico. Bonito mesmo é
papel. No seminal “Raízes do Brasil”, o grande Holanda chamou esta lamentável
faceta da cultura brazuca de “bacharelismo”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mas
você há de perguntar: porque tamanha fúria sociológica? E mais. O que isso tem
a ver com o Professor Roque? Explico, explico. Fiquei chateado quando
soube, com certo atraso, que Seu Roque Tamanini morreu. Seu Roque foi meu
professor de desenho técnico, marcenaria e trabalhos manuais. Seu Roque me ensinou
a desenhar um parafuso em projeção ortogonal. Seu Roque me ensinou a instalar
dois interruptores e uma lâmpada em paralelo. Ensinou a fazer um cabo de
rodinho a partir de um toco de <i>pinus</i>.
Enfim, ensinou tudo isso e muito mais. Hoje pouco lembro dos diagramas elétricos e nem sei se um parafuso se aperta girando para a esquerda ou para a direita. Não interessa, não interessa. O fato é que eu e muitos outros ex-moleques somos menos bunda-moles por causa do Seu Roque.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-34564308071599691102012-04-01T09:02:00.000-03:002012-04-05T14:27:22.381-03:00HARRISON FORD, MELANIE GRIFFITH E A MAIOR FELICIDADE DO MUNDO<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhASqItIMnPRYEx0Cg707oW61yosTiatKm2gMKrQ_7CpP6-qp7wYgHpM_NWFigufAiOvyv2Yz0SGlcZdNAex9fV6AqKhOrm6JvqEeQ_oHujk8nmQy-pzflks7v65VTgoH5zNnuPeNlC_Knu/s1600/Uma+secret%C3%A1ria+de+futuro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhASqItIMnPRYEx0Cg707oW61yosTiatKm2gMKrQ_7CpP6-qp7wYgHpM_NWFigufAiOvyv2Yz0SGlcZdNAex9fV6AqKhOrm6JvqEeQ_oHujk8nmQy-pzflks7v65VTgoH5zNnuPeNlC_Knu/s200/Uma+secret%C3%A1ria+de+futuro.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Um filme divertido num dia muito, muito feliz</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A enfermeira
soltou um único pedaço de fita crepe que mantinha o pequeno pacote coeso e
abriu o lençol. Neste momento, o sangue faltou às minhas pernas e apoiei a
testa no vidro. Foi então que, através das lágrimas e do hálito condensado, eu
vi você pela primeira vez. Como alguém que faz uma longa viagem e fica muito
tempo na mesma posição, vi você alongar braços e pernas enquanto o peito subia
e descia para encher os pulmões com aquela novidade chamada ar. Seu urro da
vida fazia o curativo do umbigo balançar. Como Jacques Cousteau, fiz um OK
interrogativo para a enfermeira, que me respondeu sorridente com um OK
tranqüilizante enquanto fechava a cortina. Fim do primeiro ato.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"> E
então, antes do amor, veio o pânico. Tem cérebro? Será que respira? Será que
escuta? Será que enxerga? O coração bate direito? O intestino funciona? Tem dez
dedos nas mãos? E nos pés? Porque um curativo tão grande no umbigo? Em casa, o
pânico persiste. Mamou direito? Arrotou? Mijou? Cagou? Está limpa? Tem calor?
Tem frio? Quer dormir? Quer acordar? Porque chora? Tem cólica? Visitas, por
favor, Olhem de longe e nem pensem em pegar no colo. É bom nem entrar no
quarto. Confesso, confesso. Foram cinco meses de pânico. Cinco meses sem amor.
E foi então que tudo mudou.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"> Era
um daqueles feriadinhos providenciais de quarta-feira, sem emenda com o fim de
semana. Deitei-me no tapete da sala e tirei a almofada do sofá para apoiar a
cabeça. Na sessão da tarde, passava o divertido “Uma secretária de futuro”, com
a ex-bela Melanie Griffith e o eterno Indiana Jones. Acomodei você sobre meu
peito, de bruços. E então, enquanto Sigourney Weaver quebrava o pé, caímos no
sono. Uns trinta, quarenta minutos depois, despertei assustado com o <i>plim-plim</i> que anunciava o fim do
intervalo comercial. Suas mãos pressionaram levemente meu peito enquanto você
levantou vacilante o cabeção para me fitar com seus imensos e narcotizados
olhos azuis. Babando profusamente na minha velha camiseta “Farma USP Ribeirão”,
você abriu um adorável sorriso banguela e, exausta do esforço, desabou
novamente num sono profundo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"> Com
cuidado, levantei-me do chão sem que você acordasse. Fui ao quarto e pus você
no berço. Sorri ao ver a marca da dobra da minha camiseta impressa na sua
bochecha branquinha e voltei para a sala. Harrison Ford cravava um beijo
apaixonado em Melanie enquanto eu pensava: pode alguém ser mais feliz que eu? E
foi assim, minha filha, que eu nasci para você.</span></div>
<br />Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-47217609551051633962012-03-25T09:41:00.002-03:002012-03-25T09:44:10.230-03:00NOTEBOOKS E A VELHA OLIVETTI LETTERA 82 PORTÁTIL<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyQBs6DegXqJBvcMnYiJLSJ_TVYqDMbIUaB-_q3B_u3jdbhZxROoFts1Bq-D21w8roaUxidsQRzfbvS4OuP0Bo9EcSBCE88iWw1SWrbU4c3Ez5DEXTQQ7eAEHXcr126DuSWT1w9L-8cgQs/s1600/hemingway.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyQBs6DegXqJBvcMnYiJLSJ_TVYqDMbIUaB-_q3B_u3jdbhZxROoFts1Bq-D21w8roaUxidsQRzfbvS4OuP0Bo9EcSBCE88iWw1SWrbU4c3Ez5DEXTQQ7eAEHXcr126DuSWT1w9L-8cgQs/s200/hemingway.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Hemingway na foto que tanto me impressionou</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Todos carregamos na alma um panteão de heróis, mortos ou vivos, que vamos acumulando ao longo da existência. Políticos, atores de cinema, esportistas, ídolos do rock, escritores...enfim. Se alguma pessoa deixou alguma marca no nosso modo de ser ou de pensar, costumamos reverenciá-la. Mas o fato é que agora eu não vou reverenciar ninguém. Vou reverenciar uma coisa, um objeto. Afinal de contas, coisas também podem causar impressões profundas.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Meu primeiro contato com a máquina de escrever foi auditivo. Em plena fase de alfabetização, eu demorava uns minutos para escrever “Eu vejo a barriga do bebê”, os mesmos minutos que minha tia levava para metralhar uma lauda na velha Olivetti Lettera 82 portátil. Na escrivaninha onde fazia a lição, eu mordia a língua para desenhar as primeiras letras cursivas enquanto escutava o <i>rá-tatatá</i> que a máquina fazia aos comandos dos indicadores roídos da irmã caçula da minha mãe. E, para minha suprema humilhação, tudo que meu caderno exibia eram toscas garatujas borradas de grafite, enquanto a máquina cuspia páginas e páginas em límpidas letras de forma.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Anos depois eu vi, não sei se foi numa enciclopédia <i>Barsa </i>ou num exemplar de <i>Seleções</i>, uma foto de um de meus heróis literários com o admirável dispositivo mecânico. Na foto em preto e branco, Ernest Hemingway estava sentado à mesa num lugar descampado e sob um céu carregado de nuvens. Ele não via as nuvens nem as montanhas ao longe. Na verdade, ele apertava os olhos para ver o papel enrolado no cilindro da máquina e, diferentemente da minha tia, apoiava as mãos na mesa para dedilhar eficientemente usando todos os dez dedos. E assim, gosto de acreditar, ele datilografou as mais belas combinações de palavra que alguém jamais escrevera antes.<o:p></o:p></span></span></div><span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: large;">Fascinado com a imagem despojada e viril do autor de “O velho e o mar”, me matriculei na “Escola de datilografia Visconde de Cairu” e, se hoje digitei este </span><span style="font-size: large;">textículo</span><span style="font-size: large;"> (neologismo para textinho ridículo) usando todos os dez dedos sobre meu Dell Inspiron i14440-651 de quatorze polegadas, foi graças ao velho Ernest. Minha tia, coitada, se foi antes de poder castigar o macio teclado de meu </span><span style="font-size: large;">notebook</span><i style="font-size: x-large;"> </i><span style="font-size: large;">com seus violentos indicadores.</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-31202874887623821442012-03-18T10:25:00.003-03:002012-03-18T14:59:36.474-03:00UM DESTINO GARRÍNCHICO PARA O IMPERADOR ADRIANO?<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo49mPhXo2m1mW_sV_-7BkIl4vvZ7ObCSyRRc3wcLuF5sVFJ2_gsUZOOzTqbRfs23lxAbKt-asNL6ReqybeYbM98Cw6VYDTKrWobRi9nIcGZ2XnSc4kGRkbF4BOZJhCqcgYAqmZUzZa0zZ/s1600/pacaembu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo49mPhXo2m1mW_sV_-7BkIl4vvZ7ObCSyRRc3wcLuF5sVFJ2_gsUZOOzTqbRfs23lxAbKt-asNL6ReqybeYbM98Cw6VYDTKrWobRi9nIcGZ2XnSc4kGRkbF4BOZJhCqcgYAqmZUzZa0zZ/s200/pacaembu.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Pacaembu, onde meu pai presenciou o fim</span></span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Havia entre eu e meu venerando pai o abismo de uma geração. Apesar do amor incondicional, divergíamos em quase tudo: política, segurança pública, artes e etc. Mas, como diria o presidente FHC, em algumas “<i>issues</i>”, concordávamos alegremente. Compartilhávamos o gosto pelo delicioso fermentado amarelo e espumante. Compartilhávamos também a paixão clubística pelo “Sport Club Corinthians Paulista”. E não raramente botávamos nossas afinidades em prática.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> A título de evitar a censura dos familiares, criamos um ritual para podermos beber a apreciada cerveja digamos, de maneira levemente exagerada. Eram nossos churrascos a dois. Nestas ocasiões, acendíamos a pequena churrasqueira feita de roda de caminhão, espetávamos um grilo num alfinete e fatiávamos uma bisnaguinha <i>seven boys</i> para acompanhar. Tiritando de frio, trinta latas de <i>Skol</i> obedientemente esperavam no <i>freezer</i>. Espocando uma após a outra, o grilo esturricava no fogo enquanto a cabeça ia ficando confusa e a língua, fácil. Cada vez menos Veneziani e cada vez mais <i>Karamazov</i>, falávamos cada vez mais alto e com gestos cada vez mais teatrais. E foi num destes momentos dostoievskianos que ele me contou seu episódio com Garrincha.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> No tempo em que ainda se trabalhava de terno e gravata, meu pai afrouxou a sua para assistir a estréia de Mané no Corinthians, contra o Vasco. Os anos de etanol e cortisona já haviam feito seu estrago e o craque já não era nem sombra do bi-campeão mundial que havia brilhado no Chile. Meu pai contou que deixou o belíssimo estádio do Pacaembu aborrecido pelo resultado: três a zero para o time de São Januário. Mas confessou que, no estacionamento do estádio, sentou-se ao volante da perua rural <i>Willys</i>, acendeu um <i>Hollywood</i> e chorou. Chorou não pelo resultado, mas por Garrincha. Chorou pela forma como seus então dribles desconcertantes eram agora desarmados pelos bocejantes zagueiros vascaínos. Chorou pelo fim.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Quarenta e tantos anos depois, não temos nem mais Garrincha nem meu pai. E o Corinthians agora já não tem também o imperador Adriano. A bem da verdade, Adriano não tem o currículo e acho que nem tem a mesma paixão destruidora pelo etanol que o ingênuo Mané. Mas, não podemos negar, sua passagem foi igualmente decepcionante. Hoje, os venenos são outros, são outros. Espero que, de volta ao Rio de Janeiro, o roliço atacante encontre razões mais profundas para viver, razões que transcendam a fortuna, as mulheres fáceis e as churrascarias. De Adriano no glorioso Timão, só posso dizer que não deu nem para chorar ao volante...</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-67522415292289639252012-03-11T09:23:00.001-03:002012-03-11T09:32:12.943-03:00SOBRE OOMPA LOOMPAS E SOBRE COMO FUI TROCAR MEU CELULAR NUM DIA PSICODÉLICO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZsaRe_l2kSqy0_AtfXAltPT0EE6ECCg7CU2h9cfsEoj2-onH101IjOPwMzULzEjDIJu9mvVN6JphK5VYc4A29xTT2RTMOtgu3LYEq4WQrZJwUk97_aSOUq_JbEReqL_iKy6n-lmmrwkG7/s1600/oompa+loompas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZsaRe_l2kSqy0_AtfXAltPT0EE6ECCg7CU2h9cfsEoj2-onH101IjOPwMzULzEjDIJu9mvVN6JphK5VYc4A29xTT2RTMOtgu3LYEq4WQrZJwUk97_aSOUq_JbEReqL_iKy6n-lmmrwkG7/s200/oompa+loompas.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Oompa Loompas, minha nova equipe de limpeza doméstica</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Foi uma sexta-feira muito, muito estranha. Começou com uma escolha infeliz, uma verdadeira idéia de jerico. Explico. Levantei-me com o pé esquerdo, meio entediado lá pelas sete da manhã e segui para o banheiro, lugar onde fiz a tal escolha asinina. Olho-me no espelho, dou uns tapinhas no rosto para acabar de acordar, enxáguo a boca, toco pasta na escova e começo a necessária faxina dental. Foi quando escutei o estranho som:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Râbou!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Giro o pescoço em busca da origem do barulho esquisito.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Râbou! Râbou!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Achei. Sobre o mármore da pia, entre o tubo de creme de barbear e o tênis pé <i>Baruel</i>, eu vi. Um sapo enorme, inflado, todo verruguento e colorido. Roxo e verde-limão, para ser mais preciso. Entre intrigado e divertido, cuspo a espuma branca e faço a grande besteira. Pego o bicho pelo dorso e tasco-lhe uma grande lambida na barriga. Ele riu. Tem cócegas. Arrependido, tento lavar a boca. Já é tarde. A doideira começou.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Na minha cabeça, Jim Morrison começa a cantar “Strange days”. O corredor que leva à sala de jantar parece um grande túnel colorido e giratório, com flores de todas as espécies e cores flutuando. Na cozinha, liderados pela minha faxineira, Oompa Loompas fazem uma limpeza furiosa. Sorridente como sempre, ela me estende uma caneca de café e diz:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Bom dia, seu Rodrigo! Gostou da minha equipe de limpeza?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Confuso, tomei a caneca em minhas mãos e respondi:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- A-rã.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Ela disparou a falar:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Foi bom encontrar o senhor. É o seguinte. Os tempos mudaram, o senhor bem sabe. Foi-se a época em que, para comprar alguma coisa era só perguntar “Quanto custa?”. Hoje, as relações de consumo são mais complexas, os produtos são mais diversificados. Eu, enquanto profissional autônoma, não posso ficar parada. Pensando nisto, e na sua comodidade, resolvi criar algumas opções de “planos de faxina” e gostaria de discutir com o senhor qual deles seria o mais adequado para seu perfil.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E lascou uma rajada de perguntas infames:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Quantas cuecas limpas o senhor precisa por mês? E camisetas? E calças? Quantos metros quadrados de piso o senhor quer que eu encere por mês?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Sorvi um longo gole do líquido negro e fundamental. Respirei fundo, mas quando ia abrir a boca, ela me cortou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Conhecendo o senhor há mais de quinze anos, tracei um perfil de suas necessidades domésticas e gostaria de lhe propor o plano “<i>Apartment Clean Plus - ACP</i>”, que inclui quarenta cuecas e passadas e um igual número de camisetas e calças, além de seiscentos metros quadrados de piso encerado / mês. Sugiro ainda contratar o pacote “<i>Bathroom wash</i>”, já que a limpeza de vasos sanitários e <i>boxes</i> não estão inclusas no <i>ACP</i>.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mais confuso ainda, só consegui perguntar:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Mas e se eu tiver uma diarréia durante o mês e precisar de mais cuecas?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Bom, cobramos dois reais por cueca limpa adicional.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Àquela altura, já desconfiava que aquela conversa surreal era coisa da minha cabeça e tinha a ver com a lambida na barriga do sapo. Ri muito e percebi que não poderia sair de casa naquele estado. Já às gargalhadas, ainda tive forças para dizer à minha funcionária:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Bom, vou pensar um pouco e amanhã lhe dou um retorno. Agora vou voltar para a cama porque não estou me sentindo muito bem.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Dormi vinte e quatro horas seguidas. Acordei no sábado, sem alucinações. Aliviado, fui tirar o atraso das providências pendentes da sexta-feira perdida. Primeira tarefa, trocar o celular. No <i>shopping</i>, fui até a loja da operadora. Uma morena franzina e de cabelos curtos, parecendo uma personagem de mangá, me atende. “Taila”, diz seu crachá. Muito sorridente, Taila me diz que meu plano é muito desatualizado, que seria interessante fazer uma “migração”, e pergunta:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Quantos minutos em chamadas interurbanas o senhor pretende fazer por mês?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> No mesmo tom, retruco com outra pergunta:<o:p></o:p></span></span></div><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Quanto tempo o veneno de sapo fica na corrente sanguínea?</span></span>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-40248748613196956592012-03-04T17:27:00.001-03:002012-03-04T18:22:01.756-03:00PISTORIUS OU O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3fLVN6Tr5tX-_9cCKlVp4OmT1Bk5ei4VTo5-bu3pekeSnznYYhfvSOpXkfwdynVoRsblu739cE8sWsFRhs0XkhiNJhpdv0wBQXmIxyHcAlWM_sgfjiTw3cE7WN1Fz5ri3Ahz8GFgRSq0z/s1600/pistorius_reut.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="125" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3fLVN6Tr5tX-_9cCKlVp4OmT1Bk5ei4VTo5-bu3pekeSnznYYhfvSOpXkfwdynVoRsblu739cE8sWsFRhs0XkhiNJhpdv0wBQXmIxyHcAlWM_sgfjiTw3cE7WN1Fz5ri3Ahz8GFgRSq0z/s200/pistorius_reut.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">O genial Pistorius em ação</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Já dizia o fundamental Nelson Rodrigues que “o que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões”. Nada mais verdadeiro, nada mais verdadeiro. Eu, na realidade, acho que minhas obsessões são uma virtude. Dito isso então, vamos a uma delas: o corredor. Já disse em algum momento e em algum lugar por aqui que, no dia em que dois macacos disputaram uma corrida, foi inventado o ser humano. E é sobre uma destas extraordinárias figuras que eu quero falar hoje. Oscar Pistorius.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O sul-africano Pistorius é amputado em ambas as pernas abaixo do tornozelo e especialista em 400 metros. Utilizando duas próteses que mais se parecem com uma suspensão de veículos <i>off road,</i> ele domina a categoria em competições paraolímpicas, sendo detentor do recorde mundial dos 100, 200 e 400 metros. Porém, como se não bastasse, Oscar é conhecido por sua luta para participar de competições convencionais. Incrivelmente, depois de muita polêmica, conseguiu sua chance. Participou do mundial de atletismo de 2011 em Daegu (Coréia do Sul) e foi medalhista de prata no revezamento 4X400 e semifinalista nos 400. Mas a polêmica segue. Será que as “molas” de Pistorius lhe proporcionam maior impulsão? Impossível saber, afinal de contas, precisaríamos de um Oscar com pés para responder a esta questão. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Particularmente, para o bem do esporte paraolímpico, eu não gostaria de vê-lo disputar competições convencionais. O que eu gostaria mesmo era de viver o suficiente para assistir ao triunfo do engenho humano e da superação: um atleta amputado tornar-se o homem mais veloz do mundo, sendo mais rápido que um atleta "normal". Velhinho em minha poltrona, gritaria para meus netinhos a famosa frase que Aldous Huxley emprestou do bardo de Stratford-upon-Avon:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Ó admirável mundo novo, que encerra criaturas tais!</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-32790506088054717692012-02-26T12:31:00.001-03:002012-02-26T12:40:18.271-03:00PERTO DE JUSTUS SOU COMO SÃO FRANCISCO DE ASSIS<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1U3sgVlB4UbKRQjtLFhQwKCLFR5RKGUi_EKTEOYuUSR_adKTy1asfuKkK8rbs1ik5jb3B-h0tYrqeudTX6wuASFPpz5kCGhBPmP2Qx3Id0QGl4oTaMl2xQ0nksOWB5vSWLAfMhyphenhyphenuBO9KO/s1600/Pavao01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1U3sgVlB4UbKRQjtLFhQwKCLFR5RKGUi_EKTEOYuUSR_adKTy1asfuKkK8rbs1ik5jb3B-h0tYrqeudTX6wuASFPpz5kCGhBPmP2Qx3Id0QGl4oTaMl2xQ0nksOWB5vSWLAfMhyphenhyphenuBO9KO/s200/Pavao01.jpg" width="193" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Justus no sambódromo paulistano</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">E eis que passou outro carnaval e como acontece todo santo ano, os brasileiros se dividiram entre aqueles que adoram as folias de momo e aqueles que detestam. Longe de mim ser ou parecer hipócrita, mas o fato é que até vinte anos atrás eu me incluía no primeiro grupo, hoje porém, me identifico mais com o seguinte. E antes que eu seja acusado de vira-casaquismo, explico.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Até meus vinte, vinte e um anos, eu sempre adorei o carnaval. Não que tivesse algum interesse pelo aspecto cultural da coisa. Bonecos de Olinda, Marquês de Sapucaí, marchinhas e sambas não me despertavam interesse algum. O que eu gostava mesmo é que, durante quatro dias, eu podia liberar os mais baixos instintos e cair numa farra dionisíaca. Se a trilha sonora do nosso carnaval fosse, digamos, as valsas vienenses, não faria a menor diferença. Lá estaria eu, canalha, com um copo de uísque na mão sussurrando ao pé do ouvido das mocinhas:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Queres ir lá for ver quão azul é o Danúbio?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Mas, como já disse, isso tudo mudou. Com a pessoa certa ao meu lado e com o fígado reclamando até de uma inocente cervejinha, participar do carnaval me parece despropositado. Assim, me bandeei para o lado dos não-foliões e passei quatro dias curtindo família, filmes, livros e dando um adianto no trabalho. Só esbarrei com o inevitável skindô-skindô durante os noticiários. No meio de tanto tamborim, lantejoulas e euforia, um fato me chamou a atenção: Roberto Justus foi homenageado pela escola de samba paulistana Rosas de Ouro. Mais uma vez, explico.<o:p></o:p></span></span></div><span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: large;">Dentre meus defeitos, eu sempre incluí um certo excesso de vaidade. Alguns centímetros a mais de circunferência na cintura me causam verdadeiro pavor. Acompanho com apreensão minha testa avançar sobre o couro cabeludo enquanto retiro à pinça alguns pelos esquisitos que insistem em crescer nas orelhas. Mas durante este último carnaval vi que, comparado a Roberto Justus, eu não passo de um Gandhi, Madre Teresa de Calcutá ou melhor: São Francisco de Assis. Vestido de membro da realeza, o grande publicitário e genro da “Garota de Ipanema” pagou não sei quanto ou fez sei lá qual favor para ser homenageado no sambódromo paulistano. Depois dessa, meus caros, vou vestir minhas alpercatas, amarrar um cinto de corda à cintura e dar de comer aos meus amigos pombos, coelhos e carneirinhos.</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-92079579601364066772012-02-20T11:29:00.001-02:002012-02-20T11:44:18.601-02:00EM DEFESA DE PEDRO BIAL OU O NOVO PACTO MEFISTOTÉLICO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOtrcim9yoCXWAofxBwxpw4sXadmPNH8HsUXdd_dpdJALQuhifWl1WTs0QWHGyOBFzFQZQxv1MBGyxM0gdV-6_I4_LUHK9i6tETo_5dDE-Uk0iD59bcECNJwVoXjYukL9eH-4kHJIQIalV/s1600/bial3.jpg" imageanchor="1" style="background-color: white; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOtrcim9yoCXWAofxBwxpw4sXadmPNH8HsUXdd_dpdJALQuhifWl1WTs0QWHGyOBFzFQZQxv1MBGyxM0gdV-6_I4_LUHK9i6tETo_5dDE-Uk0iD59bcECNJwVoXjYukL9eH-4kHJIQIalV/s200/bial3.jpg" width="184" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Bial à época da queda do muro</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">De tempos em tempos somos acometidos de uma fúria intelectualóide. Isso já aconteceu várias vezes antes, mas agora as tais redes sociais fazem este fenômeno se propagar mais rapidamente e atingir maiores proporções. De um momento para outro, começamos a achar que “o nível está baixo” e colocamos a culpa na telinha luminosa. Esquecemo-nos que a boa e velha TV nada mais é que uma vitrine para nos empurrar cartões de crédito, margarina e fatiadores supersônicos de pepino. A novela, o futebol e os programas em geral são iscas para nos manter sintonizados.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Verdadeiros paladinos da bagagem cultural de nossos filhos, elegemos o Judas da vez: Pedro Bial. Se como eu você estiver batendo às portas da quarta década de vida, há de se lembrar do charmoso repórter Bial vestindo um jaquetão marrom com ombreiras enormes e gola levantada anunciando, bem no meio do “vuco-vuco”, a histórica queda do muro de Berlim. Hoje, você liga a TV às dez da noite e torce o nariz quando vê Pedro lhe convidar para embarcar na “nave mãe do BBB” e dar uma “espiadinha em nossos heróis”. Esquecendo-se que o cara é amante de Guimarães Rosa, poeta, escritor, diretor de filmes e documentários, além de jornalista e biógrafo, você sacode a cabeça decepcionado e diz para si mesmo:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-É, Bial. Quem te viu quem te vê...<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Portanto, se você é destes cavaleiros da alta cultura, eu proponho o seguinte exercício ético. Imagine que o mefistotélico Craig Nelson, CEO da Loteria Universal, aparece na sua casa e toca a campainha. Você o convida para entrar e passa um cafezinho para ele. Muito educado, ele sorve um gole do maravilhoso líquido, agradece e, tirando do bolso uma pequena tanga tipo fio dental revestida de lantejoulas verdes muito brilhantes, lhe faz a proposta:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Vou direto ao assunto. Vim aqui lhe propor um trabalho. É simples. Está vendo esta tanga? Tudo que você tem a fazer é vesti-la e, na terça-feira gorda às quatro da tarde, desfilar sozinho e rebolando na rua Major Prado, da Igreja de São Sebastião até a Matriz Nossa Senhora de Aparecida, ao som de “Exaltação à Mangueira”. Para isso, você vai ganhar hum...digamos...trezentos mil dólares livre de impostos.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Bom, eu não sei quanto a você, mas posso dizer que eu engoliria o pudor de meus glúteos brancos e ondulantes e responderia:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Posso ao menos passar um Hipoglós?</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-58980046357084662402012-02-12T09:00:00.010-02:002012-02-12T09:00:09.616-02:00BLADE RUNNER NO JARDIM PAULISTA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQoEvs7gyVcmeW4_VVistmtcUf3jVTou7GL8nOT3OZmvIkidTX0rlclUN0iBfyMgFu2TAEHlc8pr9Sj2q8GigGWOs8nc2ktgkOfpLD0-aUhmfkmYjqkyrAADzow-sX_VCNblCXTItDp7eY/s1600/bladerunner.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQoEvs7gyVcmeW4_VVistmtcUf3jVTou7GL8nOT3OZmvIkidTX0rlclUN0iBfyMgFu2TAEHlc8pr9Sj2q8GigGWOs8nc2ktgkOfpLD0-aUhmfkmYjqkyrAADzow-sX_VCNblCXTItDp7eY/s200/bladerunner.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Chuva, fumaça, neon e Roy Batty (Rutger Hauer)<br />
</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Nasci em 1972, mas durante toda esta década eu não passava de um moleque muito louro e cabeçudo, com cabelos em forma de capacete, que jogava bola de mocassim sem meias e tinha uma cacharrel com um pinguinzinho no peito que fazia “Fiu Fiu” quando pressionado. Estilo, estilo mesmo eu desenvolvi foi nos anos 80. Usei calça de popeline da OP, relógio <i>Champion</i> que trocava pulseira, camiseta lilás, verde limão e laranja. Tinha carteira emborrachada, cabelo raspado e uma franja oxigenada que ia até o queixo. Era um “Manual dos anos 80” ambulante. Cada filme, moda, brinquedo, música daquela década eu assisti, segui, brinquei e escutei. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Hoje os anos oitenta são pintados como uma década fútil, vazia e <i>yuppie</i>. Não tinha a inocência romântica dos anos 50, o charme revolucionário dos sessenta, nem a porralouquice <i>disco</i> dos 70. Injustiça. Nada mais nada menos que a melhor produção cinematográfica de todos os tempos pertence aos achicalhados anos 80. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Baseado num pequeno romance de Phillip K. Dick, “<i>Blade runner</i> – o caçador de andróides” conta a história de Deckard, um policial que tem por missão capturar quatro andróides foragidos que são mais humanos que os próprios humanos. Como se não bastasse o incrível roteiro, o visual é igualmente sensacional. Los Angeles decadente, escura e apinhada de gente falando uma mistura de japonês, espanhol e inglês. A combinação da chuva onipresente e da fumaça dos carros com o brilho do neon resultam num efeito belíssimo, emoldurado pela trilha sonora de Vangelis. Inesquecível. </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">Mas a verdade é que eu contei tudo isso porque esta semana tive uma espécie de epifania </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">bleidirrânica</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"> Chovia uma chuva bíblica quando saí da garagem e ganhei a Rua Batatais. Coincidentemente, o CD tocava “Blade runner end Theme” quando cheguei na esquina e vi, por entre os pingos, uma enorme placa de neon escrito “Rodoviária Jardim Paulista”. Entre os dentes, declamei:</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">“Vi coisas que vocês, homens, nem imaginam. <o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Naves de guerra em chamas na constelação de Orion. <o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Vi raios-C resplanderem no escuro, perto do Portal de Tannhaüser.<o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Todos esses momentos se perderão no tempo...como lágrimas na chuva.<o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Hora de morrer.<o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E então, tive vontade de me ajoelhar na rua e de soltar uma pomba branca, como o robótico Roy Batty (vivido por Rutger Hauer) fez no filme. Mas tudo o que fiz foi arrancar com o carro, feliz por poder ver beleza em coisas tão prosaicas.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-51039719141679672562012-02-05T09:41:00.005-02:002012-02-07T21:40:39.305-02:00EMIL ZATOPEK OU A LOCOMOTIVA HUMANA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYhm8VlaJew3XOH2b4dEiKYIOVFhe8xPFuYUazt3CC4lgNYmv8yhW1vFO4FAgucsTeP_zr-tXLvFuaQ7x2tp6K3HwwCnsgZPdgvNflNphoU-2DHNFK6aynaJ1Y5SHYKdbB8aF-6sZQCAyd/s1600/Zatopek-et-Mimoun.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="141" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYhm8VlaJew3XOH2b4dEiKYIOVFhe8xPFuYUazt3CC4lgNYmv8yhW1vFO4FAgucsTeP_zr-tXLvFuaQ7x2tp6K3HwwCnsgZPdgvNflNphoU-2DHNFK6aynaJ1Y5SHYKdbB8aF-6sZQCAyd/s200/Zatopek-et-Mimoun.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Zatopek (à esquerda) e Mimoun</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Aconteceu há muitos anos atrás. Muitos. Dezenas de milhares, para ser mais preciso. Dois macacos pelados encontraram-se na savana. Um deles levava uma clava, o outro, uma clava e um preá morto, atado à cintura. O macaco sem preá falou:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Quero seu preá.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O macaco com preá rebateu.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Nem a pau!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Conhecendo os milhões de anos de evolução dos macacos pelados até aquele instante, qualquer um poderia prever que uma contenda como aquela terminaria invariavelmente com pelo menos um crânio esmagado a pauladas. Mas então tudo mudou. Surpreendentemente, o macaco com preá disse:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Está vendo aquele baobá lá longe? Quem chegar primeiro leva o preá.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E correram. Calhou de ganhar o macaco sem preá. O adversário, sem maiores reclamações, desamarrou o preá da cintura e ofereceu o bicho ao outro macaco pelado dizendo:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Parabéns.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Ao que o outro respondeu<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Obrigado.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Apertaram-se as mãos e foram embora, vencedor e vencido, com os crânios intactos. Não se ouviu guinchos intimidadores, nem urros violentos. Apenas um suave menear de cabeça e o civilizado “Obrigado”. Inventava-se assim, num único momento aparentemente banal, a corrida, o troféu, o campeão e, mais importante, o ser humano. Perceba-se então que o corredor é a essência do humano. E ninguém representou melhor esta essência que o grande Emil Zatopek, mais conhecido como a locomotiva humana. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Emil já havia conquistado uma medalha de ouro olímpica nos 10.000 m e uma de prata nos 5.000 m em Londres quando foi para os jogos de Helsinque, em 1952. No primeiro dia, e com imenso favoritismo, ganhou fácil sua segunda medalha de ouro olímpica nos dez mil. Um dia depois, papou o ouro nos cinco mil. Mas então, quando todos acharam que Zatopek já havia terminado sua incrível participação nos jogos, ele foi sublime. De última hora, resolveu participar da maratona, prova que ele nem treinava. Sem a menor idéia do ritmo que deveria se impor, decidiu seguir o líder. Vinte e cinco quilômetros depois, achou que o líder estava lento demais e disparou, chegando dois minutos e meio à frente do segundo colocado. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Quatro anos depois, um Emil combalido por uma hérnia tentou defender a medalha de ouro na maratona. E então ele foi mais humano do que locomotiva. Ao chegar em sexto lugar, foi cumprimentado efusivamente por seu grande amigo e rival Alan Mimoun, o vencedor. Mimoun, além de francês, era freguês e já havia perdido três finais olímpicas para Zatopek, que sempre o consolova, consternado:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Sua hora vai chegar.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E quando ela finalmente chegou, há quem jure que Emil, fora do pódio, estava mais feliz do que jamais esteve num final de prova. Abraçado a Mimoun, gritava em seu ouvido:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">-Você conseguiu, meu amigo.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E pensar que tudo começou com um preá...</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-34189060267028262182012-01-29T09:00:00.035-02:002012-02-07T21:41:04.582-02:00NELSON RODRIGUES 2012 - UMA HOMENAGEM AO ANJO PORNOGRÁFICO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg1XZJAEiR-TyQnLKSViIK9hUGibeoCe_-ChF9YNP0x3b9tP5ic1ctXd9I4Z3ekrUsetIHH5Pq2h2I9e-GaxyHSvT1X6iRoudrWe1kNtGclRKUGZXBIio6HHpelwzyI0F-NyjRTUJEcZbk/s1600/nelson-rodrigues.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg1XZJAEiR-TyQnLKSViIK9hUGibeoCe_-ChF9YNP0x3b9tP5ic1ctXd9I4Z3ekrUsetIHH5Pq2h2I9e-GaxyHSvT1X6iRoudrWe1kNtGclRKUGZXBIio6HHpelwzyI0F-NyjRTUJEcZbk/s200/nelson-rodrigues.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">O gênio, martelando sua Remington <br />
com os indicadores</span></td></tr>
</tbody></table><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Uma flor de menina</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Dirce era uma flor, um doce de menina. No auge de seus dezesseis anos, tinha longos cabelos pretos, lisos e uma pele de porcelana. Magra e elegante, tinha os modos de uma princesa. Talheres, bombons e lencinhos de seda ela segurava usando sempre as pontas dos dedos. Muito nova e ingênua, bastava uma fita de romance no cinema para que ficasse de suspiros pelos cantos da casa. Sonhava com um marido carinhoso, que lhe beijasse a testa antes de sair e que lhe trouxesse flores ao chegar do trabalho. Nos dias em que ficava assim, área, era mais linda ainda e a mãe sempre lhe dizia, carinhosa:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Volte para a Terra, minha filha!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Nos chás promovidos pela mãe na grande casa em Laranjeiras, as tias não cansavam de comentar entre uma fatia de bolo de fubá e um cálice de Porto:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Linda! Um <i>biscuit</i>!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Um pai muito severo<o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O pai, Dr. Veiga, era um sujeito distinto e respeitado no meio jurídico. Especialista em direito de família, era um guardião moral daqueles que moravam naquela casa, e em especial da filha predileta – Dircinha. Dizia sempre que a virtude de seu lar é que lhe dava forças para suportar as vergonhosas disputas entre pais, filhos e irmãos que era obrigado a mediar dia após dia. Sem tirar o charuto da boca, costumava dizer que tinha que ser muito homem e muito direito para sequer olhar para Dirce. Para namorar, só com sua aprovação. Certa vez, a menina se engraçou com um vizinho. Pediu que a mãe intercedesse, perguntando ao Dr. Veiga se ele consentiria que o menino lhe fizesse a corte.</span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Respondeu, seco:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">- Ouvi dizer que joga sinuca a dinheiro. Não serve.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> E Dirce, com muita paciência, só dizia “sim senhor”. </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">Outro pretendente, outra interseção da mãe e outra negativa:</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Muito pobre. Não serve.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Outros dois pretendentes, outras duas interseções da mãe e outras duas negativas do pai. E a menina, muito doce, sempre as acatava com santa resignação. </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">Um dia, Dircinha conheceu um moço belo e com um físico de Victor Mature. Era direito, de boa família e o melhor – era louco por ela. E ela era louca por ele. Feliz da vida, pediu que a mãe intercedesse novamente junto ao Dr. Veiga.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O velho, embriagado pelo poder de veto, cravou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Não serve<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Desta vez, a menina retrucou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Não serve porque?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Não serve porque não serve, ora bolas!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Mas porque não serve?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Não serve porque eu disse que não serve e ponto final. Cale a boca senão parto-lhe a cara, estás sabendo? Parto-lhe a cara!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Dirce fuzilou o pai com o olhar, não disse mais nada nem derramou uma lágrima. Apenas deixou a sala.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">O sumiço<o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> No dia seguinte, à mesa do café, a mãe aflita dá a notícia ao velho:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Não está no quarto, não está no banheiro, na cozinha ou em lugar algum. Sumiu!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Como sumiu?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Sumiu, ora essa! Vai procurar tua filha, homem!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Foi direto à casa do rapaz:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">- Por aqui ela não passou.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Bateu de porta em porta, em todas as casas da rua e nada. Chamou a polícia, colou cartazes nos postes. Nada. Passou-se uma semana nesta busca frenética sem pista alguma do paradeiro da filha. Passado este período, já pensava o pior. A própria polícia já dizia que, àquela altura, já devia estar morta, em alguma cova rasa na mata da Tijuca. Desconsolado, voltou ao trabalho.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;">A última marmita</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> No escritório, liga o computador e abre o Gmail. No alto da lista, um <i>e-mail</i> direcionado a ele e a todos seus clientes. Clica, e no corpo da mensagem, há apenas um <i>link</i> para “www.dircinha_laranjeiras.blogsafadas.com.br”. Clica novamente, agora no <i>link</i>. E então, seu mundo veio abaixo. O site mostrava uma foto da filha, nua, numa pose lasciva. Estava atracada com um negro enorme cujo rosto estava borrado por um efeito ordinário de <i>photoshop</i>. Acima, lia-se:<o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">“Bem vindos ao blog da Dircinha!</span></span></i><br />
<i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Cada dia uma foto quente</span></span></i><br />
<i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> com um cliente diferente”<o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Alucinado, o pai correu em direção á janela e atirou-se do décimo andar. Embaixo, a mulher lhe trazia a marmita e pode ver os últimos espasmos do marido espatifado na avenida.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-23871887690855890242012-01-24T21:17:00.003-02:002012-02-07T21:41:32.410-02:00O CAMINHÃO BASCULANTE E O TABLET CHINÊS<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAu1sbXXlxTQwAQzdiwcNvbcO6zHNU7SuGUCn1m8W6Yy3buq624Z_cEVWbeDOZY5a-rfHVg1pRj4iZ34lpSNnZxORvbdg3_4LOhZV3ot-sl-jyVO-oCp0nhH3qTgXfwSEgtV4Y_AR2eozQ/s1600/caminh%25C3%25A3o+basculante.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAu1sbXXlxTQwAQzdiwcNvbcO6zHNU7SuGUCn1m8W6Yy3buq624Z_cEVWbeDOZY5a-rfHVg1pRj4iZ34lpSNnZxORvbdg3_4LOhZV3ot-sl-jyVO-oCp0nhH3qTgXfwSEgtV4Y_AR2eozQ/s200/caminh%25C3%25A3o+basculante.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Um brinquedo muito, mas </span><br />
<span style="color: white;">muito chato mesmo...</span></td></tr>
</tbody></table><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Parecia uma boa idéia, mas era um brinquedo um pouco caro. Foram</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large; text-indent: 35.45pt;"> precisos meses de insistência e irritante manha infantil para consegui-lo. Vencida pelo cansaço, alguns dias depois minha mãe me entregou um pacote com o indefectível papel de embrulho da “Casa Arradi”. Com volúpia, rasguei aquela papelada toda e abri a grande caixa para, já de cara, ter a primeira decepção. Pilhas não incluídas. De joelhos, puxei a barra da calça do meu paciente pai: “Dez cruzeiros, pelamordedeus!”. Voei para o Bar do Seu Galvão e comprei duas Rayovac amarelíssimas. Agora meu caminhão basculante estava pronto para funcionar. Caminhões à pilha existiam muitos, mas nenhum como aquele. No teto da cabine do possante havia uma série de botões para direcionar o brinquedo – esquerda, direita, parar, levantar a caçamba e ir em frente. A graça durou nem quinze minutos. A verdade é que o brinquedo era um verdadeiro saco. Em tempos pré-controle remoto, era preciso acompanhar o movimento do carrinho e abaixar toda a vez que quisesse mudar seu rumo. Cansado daquele sobe e levanta, desliguei o irritante brinquedo, amarrei um barbante nele e saí pimpão pela Rua Riachuelo. Nunca mais ele funcionou movido à pilha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Mas só contei a história deste caminhãozinho imbecil porque recentemente fiz uma compra que me provocou frustração semelhante: um <i>tablet. </i>Quando o aparelhinho chegou pelo correio, fiquei com a boca cheia d’água, imaginando rechear sua memória com uma infinidade de <i>ebooks</i>. Nunca mais eu gastaria um tostão com os jurássicos livros de papel. Imediatamente carreguei a bateria do meu “<i>made in china</i>” (obs.: não. Não era um <i>Ipad</i>) e passei uma madrugada aprendendo como alimentá-lo. Coloquei clássicos, biografias, Saramago e até uns bons suspenses de Stephen King. Depois de toda esta maratona tecnológico-literária, fui praticar meu esporte favorito: ler no banheiro. E foi então que veio a frustração. Acomodei-me para, como dizer...fazer minhas abluções e apertei o “<i>power</i>”. Durante uns dois minutos, a telinha exibiu “<i>Android 2.1</i>”. Quando finalmente pude abrir o <i>ebook</i>, já era tarde demais. O fato é que agora meu <i>tablet </i>chinês está guardado no armário da sala, junto com o espremedor elétrico de laranja e faca elétrica. No banheiro agora, só papel. Para tudo.</span></span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-25786758392680573342012-01-13T20:12:00.001-02:002012-01-13T20:15:57.961-02:00NOSTRADAMUS NA RUA PIRACICABA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1z_SpGMXfn5CvruILcXK4SInOZaZbMMWIDCWJPm55epT4OdTj0kdQCQpq1bV7Y3MHJw7FnvVDey4JPMpmBOsKelD5iJnmqOJzbG92i1-GUl4Vf4DeQyYoHyvShFqnmLw-P-ShXI4PFrzT/s1600/nostradamus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="191" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1z_SpGMXfn5CvruILcXK4SInOZaZbMMWIDCWJPm55epT4OdTj0kdQCQpq1bV7Y3MHJw7FnvVDey4JPMpmBOsKelD5iJnmqOJzbG92i1-GUl4Vf4DeQyYoHyvShFqnmLw-P-ShXI4PFrzT/s200/nostradamus.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Nostradamus, o cara que adora jogar <i>Angry Birds</i></span></span></td></tr>
</tbody></table><div class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">O ano novo começou com um desejo estranhamente banal. Biscoito de polvilho. Quando raiou o novo ano, preparei o primeiro café de 2012 e o aroma sensacional que sempre desponta desta frutinha maravilhosa despertou meu apetite para o quitute crocante. Sai para o dia nublado com destino à padoca e, mal havia caminhado um quarteirão pela rua Piracicaba, vi a estranha figura sentada junto ao muro dos fundos da concessionária Chevrolet.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> À primeira vista, era um típico mendigo. Calça e camisa folgadas e imundas. Cabelos e barbas muito compridos, ensebados e piolhentos. Calçava havainas (sempre esta sandália fatal) muito gastas e praticamente aderidas aos pés enegrecidos cujas unhas estavam arruinadas pelos fungos. Mas bastava uma observação um pouco mais atenta para perceber que ele era muito mais que um simples mendigo. Ao invés do tradicional cobertorzinho maltrapilho, ele se acomodava sobre o mais autêntico tapete persa. Ao seu lado, uma garrafa de </span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">Johnny Walker Gold label</i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> jazia pela metade. Em seu colo, via-se um </span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">Macbook Pro</i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> de dezenove polegadas onde brilhava a luzidia maçã de Steve Jobs. Estes luxos anacrônicos por si só já atraíram minha atenção, mas fiquei mesmo de queixo caído quando reconheci a figura. Havia visto muito </span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">History Channel</i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> durante as férias e percebi que aquele senhor era nada mais nada menos que </span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">Michel de Nostredame</i><span style="font-family: Arial, sans-serif;">, mais conhecido como o profeta </span><i style="font-family: Arial, sans-serif;">Nostradamus</i><span style="font-family: Arial, sans-serif;">. Atravessei a rua e segui em sua direção.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Ao me aproximar perguntei-lhe se estava tudo bem e ele, muito simpático, disse que sim. Em seguida quis saber por que tão eminente figura estava em tão miserável condição e ele me assegurou que era por pura opção e que adorava aquele jeito vagabundo de ser, afinal de contas havia sido ganhador da Megasena da virada do ano de 2010 e não precisava viver daquele jeito se não quisesse. Disse ainda que sua figura e cheiro desagradáveis afastavam os aproveitadores e garantiam seu anonimato. Assenti com a cabeça dizendo que compreendia, mas que não poderia deixar de importunar tão famoso vidente sem solicitar algumas profecias. Do chão, ali mesmo onde estava, ele apontou o indicador em minha direção e, muito sério, disse que me daria duas: uma sobre o Brasil e outra sobre o mundo. Mas eu tinha que prometer que o deixaria em paz após as revelações. Excitado, disse enfaticamente sim. E ele começou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> <i>“No Brasil, as chuvas vão trazer os morros abaixo. Casas serão soterradas e famílias inteiras perecerão. As emissoras de tevê vão transmitir imagens da devastação, com closes em geladeiras e bichos de pelúcia enlameados. Depois de horas de escavação, um coitado vai ser encontrado com vida sobre os escombros e vai ser apresentado no horário nobre como o “milagre da vida” em meio aquela devastação. No mundo, um homem bomba vai explodir em algum lugar público e levar consigo alguns azarados que não tinham nada a ver com a paçoca. Horas mais tarde, a Agência de notícias Reuters vai apresentar um vídeo em que um grupo terrorista assume o atentado e anuncia que o fanático explosivo fez aquilo em nome de deus e que agora ele estava muito bem obrigado, curtindo o paraíso com setenta virgens”<o:p></o:p></i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Olhei desapontado para Nostradamus e disse que estava esperando algo menos previsível, do tipo “O Corinthians vai ganhar a Libertadores da América?”. Visivelmente irritado e sem tirar os olhos da tela de seu <i>Macbook</i>, o velho profeta disparou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> - Olha meu amigo, eu só vejo o futuro. O que você está querendo é lá com Santo Expedito, nas Sete Capelas. E agora me deixa em paz que eu cheguei no nível sete de <i>Angry Birds</i>...</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-58324528267559146342012-01-01T09:00:00.007-02:002012-01-02T15:22:21.007-02:00O CRAQUE NUNCA TOMA AULA DE FUTEBOL<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-eiALTUieTp8/TwHndNKhhWI/AAAAAAAAAYE/6XXUevH_hh0/s1600/neymar+cora%25C3%25A7%25C3%25A3ozinho.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="198" src="http://2.bp.blogspot.com/-eiALTUieTp8/TwHndNKhhWI/AAAAAAAAAYE/6XXUevH_hh0/s200/neymar+cora%25C3%25A7%25C3%25A3ozinho.png" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">O bom jogador Neymar fazendo <br />
o irritante "coraçãozinho" para as fãs</span></span></td></tr>
</tbody></table><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> A cada espirro nascem no Brasil pelo menos uns quinze bons jogadores de futebol. Outro dia, enquanto caminhava pela mata de Santa Tereza, sacudi uma árvore muito alta e caíram seis bons jogadores e dois sagüis. Cada time da primeira divisão do campeonato brasileiro tem pelo menos dois, senão mais. O bom jogador é tão comum que me dá vontade de bocejar. Agora, o craque é outros quinhentos cruzeiros. Há entre o bom jogador e o craque uma distância de cerca de doze mil quilômetros, com dois desertos, um vale e uma cordilheira no meio. O craque, ao contrário do jogador competente, é tão raro quanto a dália secreta rodrigueana. Ver o craque em ação é um privilégio, ver dois ao mesmo tempo é tão improvável quanto gravar o canto do uirapuru no cruzamento da Getúlio Vargas com a Nove de Julho. Mas no sábado, dia dezoito de dezembro de dois mil e onze, as oito e trinta, horário de Brasília, todos tivemos esta oportunidade.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Messi, o craque chocado na Argentina e criado nas divisões de base do Barcelona, e Neymar, o topetudo cem por cento Vila Belmiro. Na terra do sol nascente, o campo era os dois mais vinte coadjuvantes. Dez minutos de partida e o que vimos foi a ameba catalã fagocitar a pobre bactéria santista, e o resto é história. Durante noventa constrangedores minutos, o incrível Barça nem tomou conhecimento do Campeão das Américas. Envergonhado, eu me encolhia na poltrona. Pizarro, o conquistador, foi mais condescendente com o imperador asteca Atahualpa. Mas para meu desgosto completo, o pior ainda estava por vir nas entrevistas.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Como se ainda fosse um moleque das categorias de base, um humilhado e racional Neymar falou a verdade: “<i>Tivemos uma aula de futebol</i>”. Meneei a cabeça da esquerda para a direita, com as mãos nos olhos para esconder minha vergonha. Eu não queria a verdade. Eu queria ver uma jaguatirica acuada, esbravejando. Em campo, eu queria ver Neymar - perdendo de quatro a zero, vestir um quimono muito branco, pegar a bola no meio-campo e desembestar para a área inimiga gritando “Tora! Tora! Tora!”. Pode não ter sido seu melhor dia em campo, mas seu conformismo foi digno de um bom jogador.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-81452695597676752922011-12-25T07:30:00.002-02:002011-12-25T11:24:47.430-02:00NOEL, O FOLGADO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-b_Ot2y-sH4g/TvchX7eE63I/AAAAAAAAAX4/CDID2piZ-5k/s1600/foto+noel.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://3.bp.blogspot.com/-b_Ot2y-sH4g/TvchX7eE63I/AAAAAAAAAX4/CDID2piZ-5k/s200/foto+noel.JPG" width="151" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Dica: Fique ridículo<br />
usando o photoshop</span></td></tr>
</tbody></table><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Sidra quente, fios de ovos, tender, bolo e cerveja. Eis a receita para gerar uma jaguatirica incandescente em seu estômago. E foi este incômodo felino que me acordou às três da manhã de natal. Sentindo suas unhas arranhando meu piloro, levantei em busca da garrafa de água gelada. Em direção à cozinha, achei que ainda estava dormindo quando olhei para a poltrona da sala de tevê e vi a inconfundível figura natalina. Estava passando “Esqueceram de mim”, e o velho Noel tinha no colo uma caixa aberta de especialidades Nestlé. Era engraçado como o bom velhinho ria </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">das caretas de Macaulay Culkin</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">, lambendo as pontas dos dedos cobertos de chocolate. Folgado, pelo menos ele teve o bom senso de tirar as botas antes de descansar os pés sobre o pufe.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Incrédulo, me aproximei de Noel. Ele tomou a garrafa das minhas mãos, tomou um gole e disparou, sem tirar os olhos da tevê: <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>E aí? Você foi um bom menino?</i>”. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>Claro</i>”, respondi. Continuei. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>Mas me fala uma coisa. Você não tinha que estar por aí, distribuindo presentes?</i>”. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> O velho levantou os olhos em minha direção e disse: <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>Você é burro ou o quê? Não sabe é que são os pais que compram presentes para seus filhos?</i>”.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Não me acuei ante a obviedade da afirmação e segui argumentando:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>Bom...eu pensava isso antes de saber que você realmente existia. Agora eu já não sei...</i>”. Era uma boa resposta, e o velho reconheceu, balançando a cabeça em aceitação. Pegou o controle remoto, abaixou o volume e disse:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “<i>Olha só...as pessoas confundem as coisas. Realmente, na noite da véspera de natal eu saio de trenó para dar um rolê por aí. Paro numa casa, como um sanduba de pernil. Vou à outra, como um peruzinho, roubo uma latinha de skol. De vez em quando, um moleque acorda para mijar e me vê assaltando as sobras da ceia. Ingênuo, o guri acorda no dia seguinte, abre o presente e pensa que fui eu quem deu”</i>. E finalizou: <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> “Agora que você já sabe a verdade, meu bom garoto, tome um pepsamar e vá dormir. Agüinha gelada não vai resolver”</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Quando acordei na manhã de natal, os adultos estavam à mesa. Enchi minha caneca com o líquido negro fundamental e quinze gotas de zerocal e sentei-me junto a eles. No chão, as crianças rasgavam furiosamente os pacotes. Minha irmã, filosófica, perguntou:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> <i>“Irmão, você não tem saudades do tempo em que éramos criança e acreditávamos em papai Noel?”</i><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Segurei a caneca entre as palmas das mãos para sentir sua quentura. Sorvi um longo gole, e depois respondi:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> “Não”.</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-52350808958477143502011-12-18T09:45:00.004-02:002011-12-22T10:41:34.430-02:00O DIA EM QUE CHARLES BRONSON FUZILOU A CADELA DA MINHA MADRINHA<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioJnqx2PFctHKji8g5VWSCMKW0RFTJbGwucDC1tv5Ma-gu_qDyqZntWql7eXKdYz2HHvVULyvxD5coa2PyUF_UkjpXIbJBNrghR3IBztQgHc1h-oyqSQPldBPI-VIjsw7kyP2ceIEZCWWG/s1600/desejo-de-matar-3-wildley.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="165px" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioJnqx2PFctHKji8g5VWSCMKW0RFTJbGwucDC1tv5Ma-gu_qDyqZntWql7eXKdYz2HHvVULyvxD5coa2PyUF_UkjpXIbJBNrghR3IBztQgHc1h-oyqSQPldBPI-VIjsw7kyP2ceIEZCWWG/s320/desejo-de-matar-3-wildley.jpg" width="320px" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: white;">Paul Kersey (Charles Bronson) e sua estranha pistola de cano longo</span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Normalmente aos domingos, depois que eu traçava meu macarrão com frango requentado e Didi, Dedé, Mussum e Zacarias se empirulitavam, eu ia para a cama. Mas às vezes era anunciado que no “Domingo Maior” iria passar algum dos cinco filmes da série “Desejo de Matar”, com Charles Bronson. Aí eu me obrigava a aguentar o “Fantástico, o <i>show</i> da vida”, para assistir ao banho de sangue do fim de noite. Na série, Bronson era Paul Kersey, um cidadão comum que, após ver sua mulher morta a tiros e sua filha estuprada por três bandidos, passa a sair na noite para fazer “justiça” com sua estranha pistola semi-automática de cano longo. Eu ficava impressionadíssimo com aquilo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Àquela época, minha saudosa madrinha tinha uma cachorra horrorosa chamada Nina, que ela havia recolhido das ruas. Era uma vira-latas magricela, de cor esverdeada e dorso negro, cujas unhas muito compridas faziam “<i>fiz fiz fiz</i>” quando andava pela casa. Estava sempre de dentes arreganhados e não admitia que ninguém chegasse perto de sua dona. Mordia a mim e meus pobres primos sem o menor motivo aparente. Seu único ponto fraco eram os rojões e, durante as grandes decisões futebolísticas ou comemorações cívicas, o desprezível animal se escondia covardemente sob a mesa da copa. Eu detestava aquela cadela e ela estava prestes a sentir a fúria de Paul Kersey.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> Segunda-feira pós “Desejo de matar”. Chego da escola com fúria no olhar. Jogo a mochila sobre a cama e coloco meu coldre na cintura. Carrego meus dois revólveres Estrela com duas longas fitas de espoleta Ringo. Almocei armado até os dentes. Comi bife com arroz e feijão, lavei meu prato e escovei os dentes. Fui para a casa da minha madrinha e passei batido pela sala, sem cumprimentar ninguém. No quintal, meu desafeto canino estraçalhava uma cabeça de boneca. Ela sentiu minha presença e imediatamente ficou em pé, rosnando de maneira ameaçadora. Desafiadoramente parei em sua frente, com as pernas muito abertas e as mãos na cintura. Faltava só a trilha sonora de Sergio Leone. Ela correu em minha direção enquanto descarreguei meus dois rolos de espoleta em sua direção. Em meio ao caos de estampidos e fumaça, sorri enquanto a bicha fugia: “Claro, foi se enfiar embaixo da mesa”. Impiedoso, saí em seu percalço. Ninguém entendeu nada quando eu invadi a copa da minha Madrinha gritando “Venha sentir a fúria dos meus canos fumegantes, sua assassina!”.</span><span style="font-size: x-small;"></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-37684001281559195782011-12-11T08:30:00.003-02:002012-02-20T11:01:58.454-02:00O MACABRO DESTINO DOS MOTOBOYS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgahdo8weXx1p0V6n__Lfg8NPkQUOdxq_eo3lxwLkS5zjsxx1mHe6q6xfb1sS0s43ilNenWRoGLqX-0B9hBrUEJ5UT-p7Ue4vsbWnAl-vSPsggDSTtHJDbxjDq8sJcLUek89S9Fc1OQVfEL/s1600/mirage.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgahdo8weXx1p0V6n__Lfg8NPkQUOdxq_eo3lxwLkS5zjsxx1mHe6q6xfb1sS0s43ilNenWRoGLqX-0B9hBrUEJ5UT-p7Ue4vsbWnAl-vSPsggDSTtHJDbxjDq8sJcLUek89S9Fc1OQVfEL/s1600/mirage.jpg" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">A maldade do hediondo Craig Nelson parece não ter limites e quem tem acompanhado os noticiários sabe muito bem que estou falando dos sádicos jogos promovidos pela LU (Loteria Universal). Recentemente, a cruel Organização sorteou os nomes de novecentos <i>motoboys</i> residentes na cidade de São Paulo e proporcionou para os cidadãos daquela cidade um <i>air</i> <i>show</i> de horrores jamais visto. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Os 900 sorteados foram levados ao Aeroporto Internacional de São Paulo / Guarulhos – Governador André Franco Montoro onde, sem receber nenhuma informação prévia, foram embarcados em dois Boeings 747. Uma vez instalados os malfadados passageiros, a aeronave alçou vôo e ficou sobrevoando em círculos o entorno do Aeroporto. Imprensa falada, escrita, televisada e digital foram convocadas para o evento. Devidamente instalados na cabeceira da pista, os jornalistas presenciaram e transmitiram o abjeto <i>show</i>, que só poderia ser mesmo fruto da mente degenerada de Craig. Durante a segunda volta das aeronaves, eis que surge um jato Dassault Mirage 2000 que, com dois mísseis certeiros, encheu os céus da capital paulista com duas imensas bolas de fogo. Inútil descrever o desespero dos familiares e amigos das vítimas e seu inconformismo com a gratuidade da tragédia.<o:p></o:p></span></span></div><span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Agora, mais cruel mesmo que a LU e suas chacinas aleatórias, só mesmo a realidade. Novecentos é o número de </span><span style="font-size: large;">motoboys</span><i style="font-size: x-large;"> </i><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">que morrem anualmente na cidade de São Paulo. Como não são capturadas pelas câmeras de TV e são pulverizadas ao longo de 365 dias, estas mortes não chocam nem provocam inconformismo. Craig Nelson pelo menos deixou intactas as novecentas motocicletas de seus sorteados.</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-4136314119413447372011-12-04T08:30:00.010-02:002011-12-22T10:40:56.683-02:00O MÉTODO DAN LURIE<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLQSegRycDE_EzcARM2uzstM0lpmbaZNE_Vh95UPWIWEptL0xvbwGlnrmb7xbid9urPvdbLVCVjbfgM9x2oYl1NF0buEZ38nBA_-2p7z_wXUtkrhi9AyFa17ZUrPe5-kcnW3ZR84wNvaHQ/s1600/dan_lurie.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLQSegRycDE_EzcARM2uzstM0lpmbaZNE_Vh95UPWIWEptL0xvbwGlnrmb7xbid9urPvdbLVCVjbfgM9x2oYl1NF0buEZ38nBA_-2p7z_wXUtkrhi9AyFa17ZUrPe5-kcnW3ZR84wNvaHQ/s1600/dan_lurie.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white;">Nosso guru, Dan Lurie</span></td></tr>
</tbody></table><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px;"> </span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;">Eu estava bem comigo mesmo. Não ligava para minha barriga e tetas avantajadas conquistadas a base de muita bolacha, guaraná quinze, sofá e sessão da tarde. Eu era feliz entre meus falcons, <i>playmobils</i>, forte apaches, a molecada do bairro do sapo e a do colégio. Até que aqueles dois ovinhos localizados na altura da virilha, entre as duas pernas, inventaram de produzir e jogar na minha corrente sanguínea uma tal de testoterona. Aí então tudo mudou.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"> Aquelas criaturas irritantes, de voz esganiçada e que choravam por qualquer coisa, de repente passaram a se tornar interessantes. Puxar suas Maria-chiquinhas perdeu a graça. Esconder grilos dentro do estojo delas perdeu a graça. Brincar de “menino pega menina” durante o recreio perdeu a graça. O recreio passou a ser nossa rodinha observando de longe a rodinha delas. Começamos a dar-lhes balas, pirulitos. Mandávamos bilhetes durante as aulas e éramos solenemente ignorados. Não éramos os moleques do colegial nem muito menos os Menudos. Passamos a ser os chatos. Éramos “crianças” demais.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: large;"> Em casa, lendo meu “Almanaque da Mônica”, veio a solução. No gibi, como de hábito, estava encartado o catálogo da Ediouro que continha “O método Dan Lurie de modelagem do físico”. No dia seguinte, levei a revistinha na escola e durante o recreio, convenci a molecada. Sabe porque elas não querem saber de nós? Por que nós não temos músculos. Vocês acham que o Rambo ou o Schwarzenegger têm problemas com garotas?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Fizemos a vaquinha e, quinze dias depois, o método Dan Lurie chegou em casa pelo correio. A molecada ficou enlouquecida. Dan Lurie era o cara. Logo no começo do livro, havia uma foto de Dan tirando uma queda de braço com o então presidente americano Ronald Reagan. Entre as séries de exercícios propostos no livro, havia dicas de como abordar uma garota e de como melhorar a voz treinando com um osso de galinha entre os dentes. O método Dan Lurie era um misto de auto-ajuda com malhação. Empolgados, montamos nosso pequeno grupo de futuros “Mister Universo”. Durou uns quinze dias, até nós percebemos que tantos moleques juntos sem jogar bola era um desperdício. Dan Lurie foi trocado por uma bola Kichute número 5. Felizmente, as meninas caíram em si. Os Menudos estavam longe, lá em Porto Rico, e os caras do colegial nem queriam saber das pirralhas do ginásio. Mais ainda iria demorar um tempo até o gorducho comedor de bolachas se dar bem...</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-5678486639654495052011-11-27T07:00:00.004-02:002011-12-22T10:40:35.391-02:00O RELEVANTE ACIDENTE DE HELICÓPTERO DA NOVA ZELÂNDIA<div style="background-color: transparent;"><div dir="ltr" id="internal-source-marker_0.6404476049356163" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu bebericava o essencial líquido negro enquanto assistia ao noticiário da Globonews. Na pauta, a crise européia, a previsão do tempo, as mutretas do ministro do trabalho e as “</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; font-style: italic; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">impressionantes imagens de um acidente de Helicóptero na Nova Zelândia</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">”. Algo me soou errado. Olhei para o fundo da caneca e, fitando meu reflexo tremulante, tive a iluminação.</span></span></div><div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Primeiro o que estava errado. O mundo passa por um momento importante. A Comunidade Européia, o centro do mundo ocidental, passa por uma crise político-econômica que pode levar ao seu esfacelamento e isso tudo é apresentado numa reportagem de uns três minutos. Os mesmos três minutos utilizados para mostrar o tal acidente de Helicóptero. Não me entendam, mal. Sinto muito pela família dos tripulantes da aeronave, mas venhamos e convenhamos. Por que mostrar “</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; font-style: italic; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">impressionantes imagens</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">” no noticiário? “</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; font-style: italic; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dá audiência</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">” diria você. Sim, dá audiência. Mas no melhor estilo socrático, pergunto porque é necessário mesclar “</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; font-style: italic; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">imagens impressionantes</span><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">” ao noticiário para aumentar a audiência?</span></span></div><div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; font-family: Arial; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Acho que a resposta mais uma vez está nas cavernas. No tempo de meu tatatatatatatataravô Ug!, ninguém sabia o que era PIB, moeda, governo ou Europa. A comunidade era uma pequena tribo de uns trinta gatos pingados. “Notícia” era quando um dente-de-sabres atacava e matava um ou dois. Nós evoluimos para nos chocar e solidarizar com o drama individual. O nosso intelecto sabe que a coisa está preta na Europa, mas nosso eu primitivo se choca mesmo é com uma bola de fogo girando desgovernada. </span></span></div></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-54431302900700416592011-11-24T21:38:00.001-02:002011-12-22T10:40:11.792-02:00SOM POP E A MÁSCARA DO KISS<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioPtIh88LnYktpPWrnrNs4uaJ8Z3bFRkMsKYiJRZGzakmknoqQ0K3OtXKJVVsfQVDaj-gQh3xssyo8OF8MBWG4Yx1d_BUPpx5SkHTjWtAhZy7AWaBtvgiH7GsZ2ahCaZ_AakQq1X36T0aM/s1600/Kiss.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioPtIh88LnYktpPWrnrNs4uaJ8Z3bFRkMsKYiJRZGzakmknoqQ0K3OtXKJVVsfQVDaj-gQh3xssyo8OF8MBWG4Yx1d_BUPpx5SkHTjWtAhZy7AWaBtvgiH7GsZ2ahCaZ_AakQq1X36T0aM/s1600/Kiss.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br />
</td></tr>
</tbody></table><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Numa dada manhã modorrenta em mil novecentos e oitenta e nada eu aprendia as regras da potenciação quando chegou o bilhete. Desdobrei o papelzinho amarrotado e me deparei com a esquisita caligrafia arredondada de Paragua. Dizia simplesmente assim: “<i>eles tiraram a máscara</i>”. Se um bilhete assim tivesse chegado a mim hoje, eu nem entenderia. Quem tirou a máscara? Mas naqueles anos, eu sabia muito bem. Meu coração disparou e a cabeça começou a rodar. O segredo mais bem guardado do Rock and roll (R &R) havia sido revelado. O Kiss tirou a máscara.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Na saída da escola, a molecada em roda discutia a novidade. Um cara disse que ligou para o tio dele que morava nos EUA e o tio havia dito que tinha visto a foto do Kiss sem máscara. Que injustiça! Como é que um cara velho que nem curte um R & R conhecia o rosto do Kiss e eu não? Fui embora contrariado. Em casa, almoçando em frente à TV, meu coração dispara de novo. “<i>Não perca neste sábado no Som pop, o novo clip dos ex-mascarados do Kiss”</i>. Era quarta, e até o próximo sábado, não conseguiria pensar em mais nada. Arrastei os dias e as horas. Minha mãe percebeu meu estado alterado. “<i>Porque você está tão agitado, ansioso?”</i>. Ela não entenderia. O Kiss havia tirado a máscara e eu só veria seus rostos no sábado. Eis que o sábado chegou. Éramos uns dez moleques reunidos para ver o “<i>clip dos ex-mascarados do Kiss</i>”. Exultantes, ouvimos pela primeira vez “Lick it up”. Obviamente, o tão aguardado vídeo foi o último do programa que, ao acabar, dispersou minha ansiedade.<o:p></o:p></span></span></div><span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Então estamos em novembro de dois mil e onze. Artigos científicos, relatórios e capítulos de livros para preparar. Teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso e provas para corrigir. Pintura e conserto das portas e vitrôs do apartamento. Presentes de final de ano. A ceia de natal e o Reveillon. Esticar o 13º salário. Revisão no carro. Final do campeonato brasileiro. Duzentas mil coisas na cabeça ao mesmo tempo. Duzentas mil preocupações e eu me pergunto: que horas vai acabar esse Som pop?</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-55116928005868969742011-11-13T09:00:00.003-02:002011-12-22T10:39:52.672-02:00FILOSOFANDO COM A PANÇA CHEIA DE FEIJÃO TROPEIRO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Via de regra, nossas cidades começaram da seguinte maneira. Confortavelmente instalados no litoral, olhamos para a imensidão verde do oeste e sentimos um comichão, imaginando riquezas infinitas ali escondidas. Botamos o chapelão na cabeça e enchemos o embornal com farinha de mandioca e um naco de toucinho. Lubrificamos o trabuco e afiamos o facão. Demos um beijo na esposa, passamos a mão na cabeça dos filhos e partimos. Chegando a uma região mais ou menos plana e com um curso d’água, desbastamos a mata, trazemos a mulher e os moleques e plantamos cana ou café. Vem então a igrejinha, o coreto e a prefeitura. E o resto é história. Mas em Ouro Preto não foi assim. Ouro Preto tinha ouro e um relevo inclemente. Hoje o ouro se foi e ficaram as ruas verticais e as belas igrejas que sustentam a economia da cidade.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Estive em Ouro Preto recentemente e escalei três Kilimanjaros, quatro K9 e cinco Everestes para comprar cotonetes. Com a pança cheia de Feijão tropeiro com bisteca de porco, amaldiçoei cada passo naquelas pirambeiras improváveis. Mas na porta da farmácia, em frente à feirinha de artesanato em pedra sabão e da Igreja de São Francisco de Assis, tive a revelação. Em Ouro Preto, as ladeiras zombam da nossa ganância passada.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1422615152129990537.post-32773948475295301902011-11-06T06:40:00.002-02:002012-02-20T11:00:14.901-02:00PAULO LUMUMBA, CAMPEÃO MUNDIAL DE PAR OU ÍMPAR<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: justify;">E eis que a população mundial excedeu a barreira dos sete bilhões de habitantes. Para comemorar o fato, Craig Nelson e a equipe da Loteria Universal (LU) promoveram o “Primeiro Campeonato Mundial de Par ou Ímpar”, cujas regras foram bastante simples:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">1-<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Todos os habitantes da Terra com pelo menos um dedo em alguma das mãos e mais de 5 anos de idade são obrigados a participar.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">2-<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Basta perder uma disputa e o participante é eliminado.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> No supercomputador da LU, o banco de dados com o cadastro de todos os seres humanos existentes foi usado para sortear as partidas. Minha vizinha, Dona Cida, teve que tomar um vôo para Kuala Lumpur para encontrar seu oponente. Perdeu logo na primeira rodada e deu graças a Deus de não ter mais que viajar só para disputar um simples par ou ímpar. Mas ela era uma exceção. A maioria estava é gostando da brincadeira.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> A rodada de número 29, conhecida como “A grande final”, obteve os maiores índices de audiência jamais registrados na história. Metade do planeta torceu para Den Li Chang, o representante chinês. O restante, para Paulo Lumumba, de Angola. Eu particularmente torci para Paulo por pura fraternidade lingüística. E ele ganhou. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Paulo Lumumba, com suas incríveis 30 vitórias seguidas, foi sagrado o primeiro campeão mundial e instantaneamente tornou-se uma celebridade. As pessoas viam Paulo como uma espécie de profeta. Cultos chegaram a ser criados para adorá-lo. Mas, assim como veio, sua incrível fama se dissipou. E foi assim que aconteceu. </span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Seis meses após o término do Campeonato e aproveitando a popularidade de Paulo, a voraz LU organizou o "Primeiro Campeonato Mundial de Cara ou Coroa", nos mesmos moldes do campeonato de par ou ímpar. Desnecessário dizer quem era o grande favorito. Impossível descrever a comoção mundial causada pela derrota de Lumumba logo na primeira rodada. O grande campeão foi batido em casa por Dona Cida, que após o grande feito simplesmente levantou os olhos e disse em voz alta para si mesma: "para onde é que eles vão me levar agora..."</span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></div>Rodrigo C. S. V.http://www.blogger.com/profile/01454597706709034144noreply@blogger.com0