domingo, 9 de outubro de 2011

O DIA EM QUE ENCONTREI ADOLF, O CRÁPULA, NAS LOJAS AMERICANAS

Aquele que afirma que o futebol é o esporte preferido do brasileiro é um sujeito muito mal informado. O esporte preferido do brasileiro é, de longe, garimpar DVDs nas Lojas Americanas. E eu, tendo nascido sob este céu cor de anil - um legítimo filho deste solo, não haveria de ser diferente. No Shopping, sábado à noite, tomo uma casquinha mista e sigo para as prateleiras repletas do referido produto audiovisual. Estendo a mão sobre a fileira de caixinhas plastificadas e, dando pequenos passos com o indicador e o dedo médio, os títulos se sucedem à minha frente. Ben Hur, Ivanhoé, Top gun, outro Ben Hur, uma sequência de noviças rebeldes. Outro Ben Hur. Respiro fundo. Como os antigos sonhadores de Serra Pelada e em meio ao caos maçante, sigo na busca do título inusitado, único. Aquele filme que sempre quis assistir e não sabia existir em DVD.
            Eis então que topo com o abominavelmente instrutivo “Triunfo da vontade”, de Leni Riefenstahl. Cabe a explicação. Em 1934, Hitler encomendou a sua muito talentosa cineasta preferida, um documentário sobre o Sexto Congresso de Nuremberg. Fico curioso. Sempre assisti a documentários onde o Bigodinho aparece em meio a bombardeios ou inspecionando tropas. Como seria ver a Alemanha e seu líder quando tudo era progresso e confiança? Comprei e conferi na mesma noite. Brevemente, eis as impressões. Em tempos em que o som é uma novidade no cinema, o filme é transpassado por marchas militares e discursos inflamados. Durante setenta por cento do tempo, o "Fürher" desfila numa Mercedes conversível pelas ruas apinhadas de gente de uma Nuremberg coalhada de antigas construções históricas. Siege heil pra cá, Siege heil pra lá. E dá-lhe mão direita esticada, crianças, mulheres e soldados sorrindo. Uma pérola: “Um povo que não cultiva a pureza de sua raça há de perecer”. É demais para mim. Dou um stop e vou ler o jornal, mais especificamente os cadernos de política e esporte.
            Em “política”, as tramóias de sempre. Sarney se safa de mais uma investigação. Tentativas de aprovação de um novo imposto para a saúde. Mascarado de medida de apoio a Indústria nacional, Dilma defende o novo IPI para os carros importados. Waldemar da Costa Neto, Jaqueline Roriz e Renan Calheiros. Sorrio feliz. É melhor uma democracia torta destas que um regime baseado na certeza de um louco munido da procuração de toda uma nação. Abro a página de esportes. Na foto, Lucas e Neymar, dois moleques cor de caramelo que moeram a zaga argentina no último amistoso. Sorrio feliz novamente. Basta um peteleco, uma foto na seção de esportes, para derrubar toda a idéia da superioridade ariana. Meu conselho: assista ao filme. E enquanto estiver fazendo isso, chame seu filho na sala, aponte o dedo para a tela e diga “Eis aí um grande filho da puta”. 

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