domingo, 16 de outubro de 2011

NOTAS TURCAS III OU INDO MUITO LONGE

Chego do Congresso louco para tirar a camisa de mangas longas e a calça jeans coladas ao corpo de tanto suor e impregnadas dos cheiros de tantos sovacos internacionais. No quarto do hotel, tiro tudo, jogo em cima da cama e coloco minha bermudona florida. Olho para o espelho, dou um tapa na pança e, enquanto observo as ondas de choque se espalharem pelo meu abdômen, concluo que pareço um surfista hipercalórico.
            Vaidades à parte, chego à praia e meto as canelas nas mornas águas do Mediterrâneo. Enquanto caminho, sinto a massagem relaxante das pedrinhas muito pequenas e arredondadas nas solas dos pés. Na paisagem ao fundo, uma belíssima cadeia de montanhas com um por do sol tão clichê e bonito que até dói. Tento pensar em coisas belas que Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade ou Vinícius de Morais diriam e morro de inveja, porque tudo que consigo pensar é:
            - Se eu fosse Luke Skywalker e estivesse em Tatooine, estaria vendo dois sóis se porem.
            Envergonhado de um pensamento tão pop num momento tão absoluto desses, volto para o hotel e encontro, próximo ao bar da piscina, um garoto com o indefectível nariz turco mas com estranhos olhos trágicos de cantor de tango. Até onde posso entender, seu nome é alguma coisa como Erguelen. Erguelen tem ao seu lado um telescópio apontado para o espaço com um pequeno cartaz escrito à mão afixado onde se lê: “Observing is free”. Quando pergunto o que é possível observar no céu naquele dia, ele me mostra Júpiter e me explica excitado, num inglês quase sem sotaque, que os pontinhos pretos que posso observar ao seu redor são suas quatro luas.
            Agradeço ao pequeno Erguelen e, enquanto me encaminho ao restaurante para encarar mil tipos de pratos à base de berinjela, penso que tive que ir até a Turquia para visitar Júpiter e suas luas. Este sim é o pensamento profundo que estava procurando.

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