domingo, 18 de dezembro de 2011

O DIA EM QUE CHARLES BRONSON FUZILOU A CADELA DA MINHA MADRINHA

Paul Kersey (Charles Bronson) e sua estranha pistola de cano longo

Normalmente aos domingos, depois que eu traçava meu macarrão com frango requentado e Didi, Dedé, Mussum e Zacarias se empirulitavam, eu ia para a cama. Mas às vezes era anunciado que no “Domingo Maior” iria passar algum dos cinco filmes da série “Desejo de Matar”, com Charles Bronson. Aí eu me obrigava a aguentar o “Fantástico, o show da vida”, para assistir ao banho de sangue do fim de noite. Na série, Bronson era Paul Kersey, um cidadão comum que, após ver sua mulher morta a tiros e sua filha estuprada por três bandidos, passa a sair na noite para fazer “justiça” com sua estranha pistola semi-automática de cano longo. Eu ficava impressionadíssimo com aquilo.
            Àquela época, minha saudosa madrinha tinha uma cachorra horrorosa chamada Nina, que ela havia recolhido das ruas. Era uma vira-latas magricela, de cor esverdeada e dorso negro, cujas unhas muito compridas faziam “fiz fiz fiz” quando andava pela casa. Estava sempre de dentes arreganhados e não admitia que ninguém chegasse perto de sua dona. Mordia a mim e meus pobres primos sem o menor motivo aparente. Seu único ponto fraco eram os rojões e, durante as grandes decisões futebolísticas ou comemorações cívicas, o desprezível animal se escondia covardemente sob a mesa da copa. Eu detestava aquela cadela e ela estava prestes a sentir a fúria de Paul Kersey.
            Segunda-feira pós “Desejo de matar”. Chego da escola com fúria no olhar. Jogo a mochila sobre a cama e coloco meu coldre na cintura. Carrego meus dois revólveres Estrela com duas longas fitas de espoleta Ringo. Almocei armado até os dentes. Comi bife com arroz e feijão, lavei meu prato e escovei os dentes. Fui para a casa da minha madrinha e passei batido pela sala, sem cumprimentar ninguém. No quintal, meu desafeto canino estraçalhava uma cabeça de boneca. Ela sentiu minha presença e imediatamente ficou em pé, rosnando de maneira ameaçadora. Desafiadoramente parei em sua frente, com as pernas muito abertas e as mãos na cintura. Faltava só a trilha sonora de Sergio Leone. Ela correu em minha direção enquanto descarreguei meus dois rolos de espoleta em sua direção. Em meio ao caos de estampidos e fumaça, sorri enquanto a bicha fugia: “Claro, foi se enfiar embaixo da mesa”. Impiedoso, saí em seu percalço. Ninguém entendeu nada quando eu invadi a copa da minha Madrinha gritando “Venha sentir a fúria dos meus canos fumegantes, sua assassina!”.

4 comentários:

  1. Genial parece que estou vendo a cena!!!!!
    A Nina merecia este destino.

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  2. Olá, Rodrigo! Hoje passando em alguns blogs amigos para desejar Boas Festas e um ano cheio de novas ideias e realizações!
    Até 2012!!!

    Grande abraço!
    Tais Luso

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  3. Nossa, que fúria descarregada na coitada da Nina:espero que isso tenha sido um delírio momentaneo ,mas que na realidade nada disso tenha acontecido.Discordo totalmente do Junior,nenhum cachorro merece este destino.Não existe bicho no mundo que não retribua ao bom tratamento.Mas a par deste assunto que tem nossa discordância,gostei muito de teu blog e estou seguindo.Muito obrigado pela visitinha.Grande abraço.

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  4. Ahhahahahahahaha!!!!!!! Não consigo parar de rir!!! Rô vc realmente era fogo!!! Só hoje descobri de onde vem sua furia"destruidora", por isso nossas casinhas de bonecas no pombal sempre ficavam destruidaaas após os finais de semana!!!Essa éopoca de natla não da pra esqueçer nossos paçhaços gemeos que ganhamos de nossa madrinha(Afinal de contas "TIa Lô, também éra minha madrinha) e vc deu o "Sugestivo" Nome de Quinzinho e João viCtor Rô adoro os posts!!!! E mais ainda vc!!!!!!!!!

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