Via de regra, nossas cidades começaram da seguinte maneira. Confortavelmente instalados no litoral, olhamos para a imensidão verde do oeste e sentimos um comichão, imaginando riquezas infinitas ali escondidas. Botamos o chapelão na cabeça e enchemos o embornal com farinha de mandioca e um naco de toucinho. Lubrificamos o trabuco e afiamos o facão. Demos um beijo na esposa, passamos a mão na cabeça dos filhos e partimos. Chegando a uma região mais ou menos plana e com um curso d’água, desbastamos a mata, trazemos a mulher e os moleques e plantamos cana ou café. Vem então a igrejinha, o coreto e a prefeitura. E o resto é história. Mas em Ouro Preto não foi assim. Ouro Preto tinha ouro e um relevo inclemente. Hoje o ouro se foi e ficaram as ruas verticais e as belas igrejas que sustentam a economia da cidade.
Estive em Ouro Preto recentemente e escalei três Kilimanjaros, quatro K9 e cinco Everestes para comprar cotonetes. Com a pança cheia de Feijão tropeiro com bisteca de porco, amaldiçoei cada passo naquelas pirambeiras improváveis. Mas na porta da farmácia, em frente à feirinha de artesanato em pedra sabão e da Igreja de São Francisco de Assis, tive a revelação. Em Ouro Preto, as ladeiras zombam da nossa ganância passada.
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