domingo, 8 de abril de 2012

SEU ROQUE TAMANINI E AS RAÍZES DO BRASIL

Seu Roque me fez lembrar deste livro fundamental...

Cobertos de fuligem e suor, nossos irmãos do norte forjaram a modernidade à base de carvão, aço e vapor. Enquanto isso, abaixo do equador, insistíamos em adoçar o mundo  a base de cana e músculos africanos. No norte, homens como Benjamin Franklin, James Watt e Lavoisier tomavam choques, faziam fumaça e fediam a enxofre para fundar as facilidades do mundo moderno. Por aqui, papai descia o relho em "seus pretos" enquanto o filhinho vestia gravata de cetim e ia para as universidades da metrópole bebericar vinho do porto e tecer a labiríntica burocracia do estado-mamute que nos atola até hoje.
            O célebre historiador Sérgio Buarque de Holanda, pai do não menos célebre Chico, já denunciava este bunda-molismo, esse “nojinho” de fazer coisas com a mão. Para ele, o brasileiro sempre achou inferior o trabalho mecânico. Bonito mesmo é papel. No seminal “Raízes do Brasil”, o grande Holanda chamou esta lamentável faceta da cultura brazuca de “bacharelismo”.
            Mas você há de perguntar: porque tamanha fúria sociológica? E mais. O que isso tem a ver com o Professor Roque? Explico, explico. Fiquei chateado quando soube, com certo atraso, que Seu Roque Tamanini morreu. Seu Roque foi meu professor de desenho técnico, marcenaria e trabalhos manuais. Seu Roque me ensinou a desenhar um parafuso em projeção ortogonal. Seu Roque me ensinou a instalar dois interruptores e uma lâmpada em paralelo. Ensinou a fazer um cabo de rodinho a partir de um toco de pinus. Enfim, ensinou tudo isso e muito mais. Hoje pouco lembro dos diagramas elétricos e nem sei se um parafuso se aperta girando para a esquerda ou para a direita. Não interessa, não interessa. O fato é que eu e muitos outros ex-moleques somos menos bunda-moles por causa do Seu Roque.

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