Seu Roque me fez lembrar deste livro fundamental... |
Cobertos de fuligem e suor, nossos irmãos do norte forjaram a modernidade à base de carvão, aço e
vapor. Enquanto isso, abaixo do equador, insistíamos em adoçar o mundo a base de cana e músculos africanos. No norte, homens como Benjamin Franklin,
James Watt e Lavoisier tomavam choques, faziam fumaça e fediam a enxofre para fundar
as facilidades do mundo moderno. Por aqui, papai descia o relho em "seus pretos" enquanto o filhinho vestia gravata de cetim e ia para as universidades da
metrópole bebericar vinho do porto e tecer a labiríntica burocracia do estado-mamute que nos
atola até hoje.
O
célebre historiador Sérgio Buarque de Holanda, pai do não menos célebre Chico,
já denunciava este bunda-molismo, esse “nojinho” de fazer coisas com a mão. Para
ele, o brasileiro sempre achou inferior o trabalho mecânico. Bonito mesmo é
papel. No seminal “Raízes do Brasil”, o grande Holanda chamou esta lamentável
faceta da cultura brazuca de “bacharelismo”.
Mas
você há de perguntar: porque tamanha fúria sociológica? E mais. O que isso tem
a ver com o Professor Roque? Explico, explico. Fiquei chateado quando
soube, com certo atraso, que Seu Roque Tamanini morreu. Seu Roque foi meu
professor de desenho técnico, marcenaria e trabalhos manuais. Seu Roque me ensinou
a desenhar um parafuso em projeção ortogonal. Seu Roque me ensinou a instalar
dois interruptores e uma lâmpada em paralelo. Ensinou a fazer um cabo de
rodinho a partir de um toco de pinus.
Enfim, ensinou tudo isso e muito mais. Hoje pouco lembro dos diagramas elétricos e nem sei se um parafuso se aperta girando para a esquerda ou para a direita. Não interessa, não interessa. O fato é que eu e muitos outros ex-moleques somos menos bunda-moles por causa do Seu Roque.
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