quarta-feira, 6 de abril de 2011

FILMES DE ANIMAIS "SAPECAS"

Antes de mais nada começo afirmando: não sou desta época. Mas minhas mais remotas lembranças televisivas remetem às reprises de Rintintim numa rede Record que estava há décadas de encontrar o senhor Jesus. Caso você não saiba ou não se lembre, Rintintim era um pastor alemão inteligentíssimo que pertencia a um molequinho tocador de corneta chamado Rusty. Rusty e o cão moravam num daqueles fortes americanos do século XIX, onde os principais inimigos eram os índios. Na década de setenta, matar índios e búfalos era plenamente justificado pelo processo civilizatório, mas o objetivo deste texto não é fazer sociologia barata. Voltemos ao fiel animal.
Rintintim vivia salvando o estúpido Rusty de encrencas como animais peçonhentos, ladrões de gado e outros perigos do velho oeste. Era capaz de dar sua vida para salvar o garoto que, em troca, não lhe dava nada além de um afago. Era um um cão muito desprendido. O tempo de Rusty e Rintintim passou, mas a idéia do “animal que ajuda humano” floresceu e ganhou novos programas. Em tempos de feminismo, apareceu a versão cadela de Rintintim: Lassie. Meiga, super fiel e com uma cabeleira de dar inveja a qualquer uma das Panteras, a collie Lassie arrumava até lares para órfãos humanos. Seguindo a linha mamíferos, mas agora no ambiente aquático, temos o bom e velho Flipper. Todo município brasileiro tem ou teve uma escola de natação chamada Flipper, tamanho o sucesso que este golfinho fez. Gente boa, digo... cetáceo bom, salvou dezenas de vida humanas em situação de perigo marítimo, além de encontrar milhares de dólares em tesouros. Em meus devaneios infantis, sempre quis um Flipper, mas um pequeno detalhe técnico nunca permitiu: morava (e ainda moro) a 400 Km da água salgada mais próxima.
Poderia continuar, invocando o psicanalítico Grilo falante, o estradeiro Lobo do Vigilante Rodoviário ou o irônico gato guerreiro do He-man. Mas acho que você já entendeu meu ponto de vista saudosista: o animal ajudando humano é um sucesso do passado. Pena. Muita pena, porque o que faz sucesso hoje em dia é um outro tipo de bicho. É o odiável “animal folgado”. Explico.
O bicho icônico nesta categoria é aquele gato gordo e laranja chamado Garfield. Jon, o dono do referido felino não passa de um cretino cuja vida gira em torno de um animal que, mais do que aproveitar dele, simplesmente o despreza. Se Garfield fosse algum parente humano meu, cantaria para ele aquela do Chico Buarque que diz assim: “vai trabalhar, vagabundo. Vai se virar, criatura!”. Se fosse meu gato. Ah! Se fosse meu gato já teria virado sabão (ou será que é só cachorro que serve para fazer sabão?).
Outro animal do grupo dos folgados, mas de uma espécie simplesmente indeterminada (uma vez que se trata de um bicho alienígena) é o não menos odiável Alf. No Brasil, tiveram o disparate de fazer a piadinha mais sem graça da tradução televisiva brasileira, acrescentando ao seu nome, o epíteto “o ETeimoso”. Era um animal peludo, com um topetinho ridículo que falava como se tivesse uma batata quente na boca (não sei como era a voz original, mas em português era assim). Originalmente, sua nave caiu no quintal dos Turner, uma família formada pelo pai, mãe e dois filhos (uma adolescente e um molequinho). A partir de então, a vida se tornou um inferno para eles. Como se não bastasse sua aparência e voz irritantes, Alf ainda era um tremendo mau caráter: comprava coisas pelo telefone usando o cartão de crédito dos outros, saía dirigindo o carro da família em alta velocidade, vindo a ser multado inúmeras vezes. Bicho safado  e sem vergonha.
Mas da piece de resistance da categoria eu ainda não falei. Beethoven. Como um chefe de família permite que seus filhos tragam para o centro de suas vidas tamanho transtorno? Porque um homem adulto e provedor de seu lar cede aos caprichos de seus filhos e esposa e simplesmente deixa um canino gigantesco daqueles aprontar tamanho caos em suas vidas? Em uma cena, rodada originalmente para ser engraçada, mas que eu particularmente acho irritante, o tal Beethoven entra todo ensopado no quarto do casal, sobe na cama e chacoalha sua pelagem, ao mesmo tempo em que baba gostosamente.
Saudades do bom pastor alemão em preto e branco...

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