Entrei em casa suado e faminto, com minha bola kichute número 5 embaixo do braço. Na cozinha, vejo o vapor da panela de pressão e minha adorável tia Ana Maria segurando um garfo grande como o tridente do capeta com uma escancarada língua bovina espetada na ponta. Duvidando da possibilidade de que aquele órgão improvável venha a ser meu almoço, lanço a pergunta retórica:
- O que é isso?
Despeitada, minha doce tia retrucou. “Língua de boi”. Dei a tréplica. “Eu é que não vou comer essa coisa”. Entrei, tirei meu bamba, lavei a mão no banheiro e fui à mesa. Nem sinal daquela amputação horripilante. No lugar, uma travessa com um espesso molho de tomate com azeitonas e pequenos pedaços roliços de uma carne tão macia que desmanchava só de olhar. Nem uma palavra, minha tia faz o meu prato. Como tudo com pão e solto o elogio:
- Que delícia! O que é isso?
- Idioma.
- Sensacional, bota mais um pouquinho aí para mim.
Antália, 7 de setembro de 2011. Saio da palestra faminto e doido para descobrir os exóticos sabores da Turquia. Encho meu prato com diferentes e impronunciáveis formas de berinjela e com um cereal meio arredondado e bege. A plaquinha de identificação da travessa diz “Pilav”. À mesa, encho meu garfo com o tal Pilav e sinto um muito familiar gosto de arroz. À noite, já no hotel, instigado pelo sabor conhecido e pela sonoridade gostosa da palavra, digito “Pilav” no Google tradutor. Eis a resposta: arroz. Pela segunda vez na vida, fui enganado pelo idioma.
Maria Cecília é mais experta, não caiu nessa no domingo passado quando me perguntou se era carne de porco e eu respondi peito de frango...
ResponderExcluirÓtema.
ResponderExcluirSó vc mesmo!!!! Sempre divertido!! bjãp primão!!!
ResponderExcluirAndrea Carrara Veneziani