Antes, um preâmbulo. Às vezes o universo conspira a nosso favor. Uma combinação de boa educação, trabalho duro e a companhia perfeita me levaram a Paris no último mês de julho. Dias perfeitos com longas caminhadas na cidade mais bonita do mundo. Dentre os destinos na Cidade Luz, o complexo de tênis de Roland Garros, um antigo sonho. Na loja do complexo, busco pelos inevitáveis souvenirs. Acabo comprando, entre outras bugigangas, um belíssimo casaco impermeável azul escuro com um pequeno logo do tradicional templo do tênis. Vou embora feliz da vida. Fim do preâmbulo.
E então chegamos a esta gelada primeira semana do mês de agosto, mais especificamente a uma quinta-feira que amanheceu siberiana. Após um café fumegante e fundamental, tomo um banho escaldante e vou me vestir. E foi então que tive um surto de arrogância pequeno burguesa: vou usar meu fantástico casaco francês. As pessoas vão achar bonito e perguntar “Nossa! Que casaco bonito! Onde você comprou?” e Eu, soberbo, vou cravar: “Paris”. E foi com esse casaco perfeito e este pensamento ridículo que parti para o trabalho.
Após o almoço, meu amigo Miller resolveu tomar um sorvetinho. Rejeitei a guloseima gelada num dia tão frio, mas sentei-me ao seu lado no banco da sorveteria, sob as árvores peladas, para fazer companhia e curtir um solzinho gostoso. Enquanto discutíamos bolsas, projetos, artigos científicos e o namoro de Rodrigo Santoro com J-Lo, recebi uma lição de humildade bíblica. Uma pomba muito precisa conseguiu, a uns seis metros de altura, acertar um jato de fezes em meu ombro. Fugi para o banheiro sob uma salva de gargalhadas, para salvar meu casaco e minha dignidade. Em frente ao espelho, esfregando papel higiênico molhado sobre o local atingido, filosofei. Pombas não ligam para bens materiais. Talvez seja por isso que em toda imagem de São Francisco de Assis, o mais humilde dos santos vem sempre acompanhado de dois ou três desses bombardeiros penosos.
Se fosse uma jaqueta da Ferrari, nao haveria cagadas.
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