Esta história é contada em minha família há milhares de gerações. No passado, há mais ou menos um milhão e meio de anos, aquele que viria a ser meu paleo-avô Ug! vivia numa pequena tribo de caçadores-coletores em algum lugar da África subsaariana. O curioso é que a tribo de vovô Ug! era composta por quinze homens e apenas uma mulher: aquela que viria a ser minha paleo-avó Tulah.
Dada a escassez do gênero feminino, não é difícil imaginar como era a dura a vida dos homens da aldeia. Eles faziam de tudo para conquistar a dengosa Tulah. Traziam lindos casacos de pele de preguiça gigante e belíssimos colares de dentes de sabre. Convidavam-na para belos jantares à base de picanha de mamute e entretinham-na com lutas sangrentas para exibir coragem. Vovó Tulah, exclusiva, apenas suspirava de desinteresse. O exótico vovô Ug! mantinha-se sempre afastado das disputas. Passava grande parte do tempo em sua caverna dormindo, comendo ou desenhando bichos, plantas e cenas de caçadas nas paredes. Ao entardecer, quando a fome batia, ele pegava sua clava e procurava um buraco de tatu. Esperava o bicho sair e dava uma traulitada na cabeça do coitado. Isso garantia mais três ou quatro dias de sossego. Não é difícil imaginar que o perigoso estilo de vida levou à quase extinção da pequena comunidade. Em um ano ou dois, mataram-se ou foram mortos todos os aldeões. Sobraram Ug! e Tulah. Hoje não sabemos se foi por pura falta de opção ou se por amor, mas o fato é que o casal procriou e a maior prova sou eu.
Milhão e meio de anos depois e às duas da manhã, me pego sentado em minha poltrona perfeita, com um pacote de Doritos no colo, uma caixa de Bis e seiscentos mililitros de coca-cola zero. Enquanto assisto ao exdrúxulo Dr. Rey vender sua claustrofóbica Shapewear, reflito sobre a esperteza de meu paleo-avô. Num mundo de tigres e mamutes, a estratégia de sobrevivência de vovô Ug! foi vencedora. O problema é que ela nunca previu a existência de invisíveis predadores moleculares como o colesterol e os triglicérides. Vovô Ug! que me desculpe, mas é preciso renegar sua herança genética, calçar tênis, bermuda e camiseta e sair da caverna com maior freqüência...
você só não precisa comer tatu né?!??!?!?!
ResponderExcluirObrigada sábio primo por me fazer lembrar da minha arvore genealógica, ou talvez seria: apresentar os meus desconhecidos antepassados!!! Vc é genial, sempre com histórias sensacionais!!!Sou sua fã!!! Bjos...
ResponderExcluir29 de agosto de 2011 10:10
Ro!!! Só entro com anonimo!!! Porque?? Sou A Andrea Carrara
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