domingo, 1 de janeiro de 2012

O CRAQUE NUNCA TOMA AULA DE FUTEBOL

O bom jogador Neymar fazendo
o irritante "coraçãozinho" para as fãs
           
 A cada espirro nascem no Brasil pelo menos uns quinze bons jogadores de futebol. Outro dia, enquanto caminhava pela mata de Santa Tereza, sacudi uma árvore muito alta e caíram seis bons jogadores e dois sagüis. Cada time da primeira divisão do campeonato brasileiro tem pelo menos dois, senão mais. O bom jogador é tão comum que me dá vontade de bocejar. Agora, o craque é outros quinhentos cruzeiros. Há entre o bom jogador e o craque uma distância de cerca de doze mil quilômetros, com dois desertos, um vale e uma cordilheira no meio. O craque, ao contrário do jogador competente, é tão raro quanto a dália secreta rodrigueana. Ver o craque em ação é um privilégio, ver dois ao mesmo tempo é tão improvável quanto gravar o canto do uirapuru no cruzamento da Getúlio Vargas com a Nove de Julho. Mas no sábado, dia dezoito de dezembro de dois mil e onze, as oito e trinta, horário de Brasília, todos tivemos esta oportunidade.
            Messi, o craque chocado na Argentina e criado nas divisões de base do Barcelona, e Neymar, o topetudo cem por cento Vila Belmiro. Na terra do sol nascente, o campo era os dois mais vinte coadjuvantes. Dez minutos de partida e o que vimos foi a ameba catalã fagocitar a pobre bactéria santista, e o resto é história. Durante noventa constrangedores minutos, o incrível Barça nem tomou conhecimento do Campeão das Américas. Envergonhado, eu me encolhia na poltrona. Pizarro, o conquistador, foi mais condescendente com o imperador asteca Atahualpa. Mas para meu desgosto completo, o pior ainda estava por vir nas entrevistas.
            Como se ainda fosse um moleque das categorias de base, um humilhado e racional Neymar falou a verdade: “Tivemos uma aula de futebol”. Meneei a cabeça da esquerda para a direita, com as mãos nos olhos para esconder minha vergonha. Eu não queria a verdade. Eu queria ver uma jaguatirica acuada, esbravejando. Em campo, eu queria ver Neymar - perdendo de quatro a zero, vestir um quimono muito branco, pegar a bola no meio-campo e desembestar para a área inimiga gritando “Tora! Tora! Tora!”. Pode não ter sido seu melhor dia em campo, mas seu conformismo foi digno de um bom jogador.

4 comentários:

  1. Todo ano, eu dou aula para uns 10 futuros campeões de futebol - que por este motivo acham que não precisam estudar tanto. Eles realmente caem de árvores e ficam lá, perdidos nos chão, pra sempre...

    ResponderExcluir
  2. COmeçou bem!!!! Meu querido e descolado primo!!!Sempre uma observação sobre todos os assuntos!!!! Feliz ano novo!!! Primão....

    ResponderExcluir
  3. Sofia Veneziani Zago1 de janeiro de 2012 às 20:14

    Meu querido como sempre comentários oportunos um grande abraço e que em 2012 realize todos os seus sonhos ,saúde,paz,amor ,esperanças..........

    ResponderExcluir
  4. creio que cometeste uma injustiça. O segundo craque que você cita no texto não era o Xavi? Iniesta?

    ResponderExcluir