A TV, o três-em-um e o vinil do Rei sobre a mesinha |
Dia destes cheguei do trabalho especialmente cansado, às sete e meia da noite. Com pena de mim mesmo, joguei a mochila no sofá, descalcei as botas e as meias, acariciei os vãos dos dedos, peguei uma exagerada coca cola zero de seiscentos mililitros e me joguei na poltrona. Nem fome tinha. Como a meia era nova, meus pés estavam cheios de bolinhas de fios. Esfreguei um pé no outro para me livrar das indesejadas esferas e estiquei as pernas no pufe. Acionei o controle remoto teclando power, seguido dos números sessenta e seis: o constrangedor Canal Brasil.
Na tela, o jovem Rei Roberto Carlos pilotava um helicóptero que sobrevoava o idílico Rio de Janeiro dos anos sessenta. Genuinamente feliz, o Rei sorria e acenava para o Cristo Redentor, para o Copacabana Palace, para os brotos nas praias lotadas e para os anúncios de “Cinzano” e da “Phillips”. Ao som de “Você não serve para mim”, pousou na cobertura de um edifício. O eterno vilão José Lewgoy o convida para um drink. Esperto, O Rei percebe a armadilha e retruca “Não, obrigado”, entra num carrão e – pasmem, desce do alto do prédio suspenso por uma grua. Sensacional. Fiz umas contas de cabeça e constatei a contemporaneidade de meu pai, minha mãe e de Roberto. À época os três eram jovens, belos e desimpedidos. Se o Rei tivesse cruzado o caminho da filha do açougueiro de Bocaina antes do jovem funcionário da CPFL, eu não estaria aqui hoje.
Encantado com a coolness de Roberto Carlos, desliguei a TV e abri o gavetão do rack onde guardo alguns vinis de estimação. Em meu três em um jurássico coloquei “Roberto Carlos” (o disco de 1971). Ali estava um cara mais maduro. Nos anos setenta, o Rei já não corria atrás dos brotinhos em seu cadillac. Ele agora era o homem de uma mulher só. Canalizava todo seu talento para dizer o quanto sua escolhida era especial. Queria passar o dia todo na cama com a amada, sem ao menos se tocar que “lá fora já é noite e o dia termina”. O Roberto maduro era tão bom ou melhor que o jovem Roberto.
Na verdade eu contei toda esta história por dois motivos. Primeiro porque eu queria mostrar o quanto eu gosto do Rei Roberto Carlos e segundo porque gostaria de, na qualidade de fã, de fazer um apelo. Hoje o Rei parece que tomou gosto exagerado pelo repertório religioso. Músicas de amor romântico, só as do passado. O vácuo deixado por RC foi sordidamente ocupado pelos estridentes sertanejos. Mas o que o Rei não entende é que não dá para competir com os padres pops que assolam a mídia atualmente. Roberto, deixe o louvor para aqueles que têm a ambição do estrelato e alvará do Vaticano para serem santos. Mostre a este enxame de duplas que pipocam pelo país como é que se faz para derreter uma mulher de verdade. Seja profano, Roberto.
Boa, ehehehe.
ResponderExcluirFBC
Pois é, mano. E como o Príncipe Ronnie já se mandou do reino há muito tempo, O Rei não tem um herdeiro. Nessas, caso ele resolva mesmo lutar pelo Reino do Céu, torre caiu!
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