Na base de lançamento em Alcântara-MA, o chefe da “Missão verdeamarela” termina o check list com nosso bravo piloto:
- Ararinha-azul e mico leão dourado?
-Confere.
-Cd com a “Aquarela do Brasil”?
-Confere.
-Berimbau?
-Confere.
-Documentos secretos do Governo Federal?
-Ã?
-Mas você só não esquece a cabeça porque está colada, hein? Passa lá no Congresso Nacional e pega tudo antes de ir.
O astronauta dá um pulo na capital federal. Lá no Congresso, o boy lhe passa uma caixa cheia de papéis amarelados, datados de 1870, 1980, 1990. Velhos mesmos. Rapidamente fecham a caixa com fita crepe e escrevem com pincel atômico: documentos secretos. Com o porta-malas lotado, a caixa é colocada no banco do passageiro. O intrépito cosmonauta escreve no GPS “Markarian 739”, acerta o retrovisor, dá um aceno para o boy e parte de nosso planeta condenado. Como se pode imaginar, a viagem de cerca de 425 milhões de anos luz é um tédio. Na paisagem, apenas pontinhos luminosos. Ao lado, a inscrição “documentos secretos” instiga a curiosidade do herói solitário.
Pousou num planetinha que nem nome tinha. Abriu a porta, alongou-se gostosamente, fez xixi e olhou a sua volta. Pedras e areia. Muitas pedras e muita areia. Abriu o porta-malas, soltou a ararinha e o mico. Felizes da vida, os animais fugiram para longe. Abriu a grande caixa e pegou um pequeno livro com capa de couro onde se lia “Traquinagens do Presidente Emílio Garrastazu Médici”. Sentou-se à sombra de um grande rochedo e abriu a primeira página. Pensou que estava louco, mas escutou – “pode parar”. Virou-se e viu a figura. Um homem idoso, de cabelos gomalinados e repuxados para trás agitava o dedo indicador para a esquerda e para a direita. Entre a boca e o nariz, o indefectível bigode.
-Senador Sarney! Que honra encontrar tão eminente representante da extinta civilização brazuca por aqui.
O velho senador manteve o semblante duro.
-Você não pode ler estes documentos, rapaz. Eles estão protegidos pela lei do Sigilo Eterno.
-Mas senador! Estes documentos datam de milhões de anos atrás. O Brasil nem existe mais.
-Não interessa, moleque! No que depender de mim, o sigilo há de ser eterno...
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