domingo, 3 de julho de 2011

UM ALIMENTO HIPÓCRITA

      Aquele que tenta explicar o irracional corre o risco de parecer mais doido que o Fanfula. Pior ainda quando o assunto explicado é irrelevante e não passa de uma implicância gastronômica pessoal. Mas não importa. Como disse uma vez o fictício príncipe da Dinamarca, “É loucura, mas há método nisso”. Eis o método: um parágrafo sobre o churrasco, outro sobre os legumes e o parágrafo final sobre a pipoca.
   Primeiramente, considere o churrasco. O churrasco é simplesmente impressionante. Sente-se o aroma antes de comer e após esfalfar-se com os nacos bovinos, você percebe que traçou algo divino. Grandes expectativas olfativas são devidamente preenchidas no primeiro pedaço comido. Honestidade. Como bônus, agrega-se a família, tem-se a companhia dos amigos, cerveja direto da latinha e, vá lá, o dispensável pagodinho. Repare que, entre os mais abastados, o pagodinho dá lugar ao DVD dos BeeGees numa TV de LCD de 42 polegadas. Igualmente dispensável.

      O parágrafo antes da pipoca diz respeito aos legumes. O legume, cru ou cozido é absolutamente sem graça. Os legumes simplesmente não têm cheiro ou, se o tem, é invariavelmente ruim, sulfuroso. Quem come, come por motivos nutricionais apenas. Você come um legume porque sabe que faz bem e pronto. Você come um legume por senso de dever. Quem, como eu mesmo, fala que gosta de legumes simplesmente se acostumou com eles. Mas não há como negar, há uma relação honesta entre você e o legume. Ele não cheira, ele não promete nada pra você.
     Agora a pipoca. Não há como negar, o cheiro é inebriante. Entrar no cinema, sentir o aroma ou escutar aquele poc poc poc da pipoca estourando já faz nossas glândulas salivares trabalharem a mil por hora. Ludibriado pelo olfativo canto da sereia, acaba comprando um pacotaço desta porcaria, que nos cinemas custa uma fortuna, verdadeiro assalto. Confortavelmente instalado na sua poltrona com uma coca gigante e o enorme saco do desprezível alimento no colo, você experimenta o negocinho gordurento de tanta manteiga e se dá conta da besteira que fez. Pipoca é pura falsidade. Pelo cheiro, acha que é a maior delícia, mas ao comer percebe que não tem gosto de nada. É só sal, manteiga e aquela textura de isopor. Corre-se ainda o risco de acabar com suas obturações num acidente com um peruá. Churrasco promete e cumpre. Legume não promete nada, mas faz bem. Pipoca é hipocrisia pura e ainda engorda.

2 comentários:

  1. Aló: aproveito para lembrar também das massas. Não prometem ou instigam tanto quanto o churrasco, mas proporcionam igual deleite. Não são insossas como os legumes, mas também fazem bem (proporcionam os carboidratos para garantir as corridas). Lamentável que, assim como a pipoca, as massas engordem.... Fazer o que, ninguém (nem as massas) é perfeito; e ninguém (nós) é de ferro... abs

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